terça-feira, 20 de março de 2012

Domitila

Domitila Barrios de Chungara. Esse foi o nome que há seis anos me fez querer conhecer a Bolívia. E ainda hoje, quando a coragem quer me abandonar, eu penso nela como exemplo de luta. Na semana passada um anjo passou pela Bolívia. Depois de cinco anos lutando contra um câncer nos pulmões, Domitila decidiu seguir-lo e continuar com sua missão desde outro lugar.

Domitila batalhou sozinha contra o câncer, em um hospital público da cidade de Cochabamba. Protestava pela má qualidade da saúde pública no país. Seguia falando o que pensava e mesmo com uma intensa dor nos joelhos e uma tosse constante, todos os dias se levantava e dava aulas na escola de formação política que mantinha em Cochabamba. O corpo, visivelmente frágil, não conseguia opacar a força que saía dos seus olhos.

Mas já basta de falar. Ainda que nossas conversas tenham resultado numa reportagem publicada na Revista Fórum, eu nunca vou ter palavras suficientes para expressar com exatidão quem era Domitila ou o que pensava. Depois de conhecer-la, entendo porque Moema Viezzer, no livro Se me deixam falar, decidiu simplesmente transcrever o que tinha escutado.

Como uma pequena homenagem, compartilho com vocês uma de nossas entrevistas. Desfrutem.


COMO FOI QUE VOCÊ DECIDIU SE METER NA LUTA SINDICAL?
Tudo esteve sempre vinculado a isso das organizações sindicais, toda luta mineira, ao meu pai. Meu pai foi dirigente sindical na Siglo XX e depois do massacre de 1942 o mandaram a Pulacayo, a um centro mineiro mais frio todavia e ali o puseram na lista negra, nunca mais lhe deram trabalho na mina de Siglo XX. Além disso, em Pulacayo eram muito marcadas as diferenças. Isso falando da minha infância, passei minha infância lá. Lá havia três tipos de famílias: Umas bem acomodadas, que era o pessoal técnico da empresa, os gerentes, engenheiros, médicos, esses que tinham boas casas com calefação, porque fazia tanto frio que eles tinham isso para que suas casas tenham calefação eterna. Tinham boas roupas, luvas e todas essas coisas para estar bem e se proteger do frio. Outro tipo de família eram os obreiros, que as mães faziam sempre prenditas de abrigo, tecendo, ou desatando casacos mais velhos dos pais para fazer casacos para uma das crianças ou para outra. Sempre as mamães tratavam de cuidar disso. E havia um setor muito mais pobre, que era das crianças órfãs, quando morriam os pais de acidente ou com o mal da mina (silicose). Não havia nenhuma vantagem para os obreiros. Quando morria o trabalhador botavam sua família para fora da vivenda e não havia nem sequer indenização. Botavam para fora as viúvas, que construíam alguma coisinha perto da mina mesmo porque não tinham nem para onde ir e ficavam por aí e com esse frio que fazia nesse lugar e as crianças quase desnudas e não tinham nem comida. Então são as injustiças que se vê, isso de uns que tem tudo e outros que não tem quase nada. E sempre os obreiros estavam organizando-se e aí foi quando eu vivi a revolução de 52, quando meu pai participou, todo o povo participou e depois quando regressaram as mudanças que aconteceram, não?

QUE MUDANÇAS FORAM ESSAS?
Haviam triunfado, haviam ganhado e haviam ganhado dos três barões do estanho, se nacionalizaram as minas. Os mineiros e os operários haviam desarmado os nove exércitos que controlavam nosso país e isso com armas. E armados obrigaram o governo a nacionalizar as minas, a criar um seguro social, que é que o obreiro tenha direito a indenização por sua vida, em caso de acidente ou dano que tenha sofrido que tenham direitos seus familiares, seus filhos; uma série de coisas. Que tenhamos mais escolas e inclusive colégios, que naquela época não tínhamos, era apenas a escola onde somente podiam estudar pessoal técnico e homens. Que entrasse uma menina na escola era difícil. Meu pai só conseguiu permissão para que eu entrasse na escola quando eu tinha 10 anos, quando estava morrendo minha mãe. Éramos apenas 20 mulheres, a maioria eram homens. E os professores eram bem maus com as mulheres. Se uma cometia um erro, lhe levantam a saia e batiam uma coisa e castigavam diante de todos. Os castigos eram humilhantes para as meninas e muitas abandonavam a escola e não voltavam mais por isso. Para uma mulher era muito difícil estudar. Então meu pai sempre falava sobre as coisas que estavam acontecendo, nos explicava tudo. Dizia: “Com a revolução conseguimos isso e isso”. O direito de voto para a mulher e tudo isso. Antes somente votavam os que sabiam ler e a burguesia, não? Hoje mesmo no curso estávamos falando que nessa época havia três milhões de habitantes na Bolivia e disso somente 50 mil pessoas votavam para eleger presidente e vice-presidente na Bolívia. Éramos três milhões e só 50 mil votando, imagine. Eu sempre tive, então, essa inclinação e quando cheguei ao acampamento em Siglo XX e se organizaram as mulheres eu entrei, em 1963.


E QUE SIGNIFICAVA UM COMITÊ DAS DONAS DE CASA NAS MINAS?

Organizar-nos no Comitê foi para nós uma escola. Na primeira vez em que as mulheres se organizaram, anunciaram na rádio da mina dizendo que nunca mais os obreiros iam lutar sozinhos, senão que iam estar suas esposas ao lado deles. No comitê tínhamos a tarefa de lutar porque os alimentos que a empresa nos trazia, por exemplo, era de muita má qualidade, tinha o preço muito elevado e era pouco, era racionado porque eram muitos obreiros. 70% do salário do mineiro ia a alimentos. Davam-nos crédito e tínhamos que pegar da loja do patrão os alimentos. Além do mais nos enganavam no peso. O Comitê começou a lutar por isso e depois por escolas, que os professores fossem profissionais, que as escolas sejam cômodas para nossos filhos, que o lanche escolar seja de qualidade. Começamos lutando por problemas sociais, depois começamos a lutar junto com os mineiros por melhores condições de trabalho, por mais material, como dinamite. Sempre coordenávamos as ações do sindicato com as ações do comitê das donas de casa. Estávamos assim lutando por melhorias quando de repente os governos anunciavam que havia uma desvalorização do dinheiro. A mais grave foi em 1974. Com um peso boliviano comprávamos seis pães, e no dia seguinte, pelo decreto, um peso davam dois pães. Desaparecem quatro pães. Eu comprava dois pesos de pão para tomar café da manhã com meus filhos. Tinha doze pães. E de repente só tenho quatro pães. Os mineiros começaram então uma greve para melhoria de salários. E então o presidente Hugo Banzer Suarez mandou tanques, declarou nosso acampamento zona militar, proibiram reuniões, assembléias, marchas, e declarou estado de sítio. Assim que não tínhamos nada que comer, as lojas de comida estavam fechadas, pois como vão vender nessa situação? Automaticamente com essas medidas econômicas sempre se fecham todos os mercados, ninguém te vende. Os filhos morrendo de fome. Aí o governo para frear esse protesto decreta estado de sítio e dá pequenos aumentos que não cobrem nem sequer 2% do que subiu. Quando já não podíamos dar de comer a nossos filhos e vendo toda essas proibições nós decidimos nos reunir. Reunimo-nos no sindicato mesmo com o exército lá fora. Era proibido, mas o que se pode fazer diante da fome dos seus filhos? Reunimo-nos chorando porque tínhamos dito que quando as mulheres lutassem junto com os homens íamos estar melhor, e começamos a pensar que estávamos era pior, porque não tínhamos nem o que dar de comer para nossos filhos. E um dirigente nos disse: “É que a luta, senhoras, não só é social, não só econômica, mas também é política”. A luta fundamental é a política. Mas já estávamos cansados de tantos politiqueiros que não são políticos e dizíamos que não, que em política não íamos nos meter, e inclusive os dirigentes mais velhos diziam: “Eu vivo do meu trabalho, não vivo da política”. E os outros diziam que “então, senhores, nunca vai melhorar nossa situação”. Na diretiva éramos 15 e então nos demos conta de que a Siglo XX era quase como um ninho de todos os pensamentos políticos. Havia de tudo: trotskistas, comunistas, socialistas, nacionalistas, governistas... Ao final voltamos a nos reunir e nos demos conta de que todos os seres humanos são políticos desde que nascem.

COMO É ISSO?
A criança, por exemplo, quando nasce e é um bebë e começa a chorar é porque quer que troquem suas fraldas ou lhe dêem leite. Se soubesse falar diria: “Mamãe tenho fome ou fiz pipi, por favor, me troque as fraldas”. Mas como não sabem começam a chorar. Essa é a primeira manifestação política dos seres humanos. Logo tem seis ou sete anos, andará pelas ruas e de repente vê um doce, um chocolate, um brinquedo. E dirá “mamãe eu quero isso, eu quero”. A mãe diz que não tem dinheiro e não me perturbe, vamos a casa. Ele então não quer ir a sua casa e quero isso, quero isso. É o político mais sincero porque a mãe vai brigar com ele, vai bater, mas a ele não importa porque quer e ponto e não tem medo. Logo vem a adolescência do ser humano, seja homem ou mulher. Na minha casa acaba o gás e eu digo ao meu filho mais velho: filhinho, vai comprar gás. E ele vai, mas antes diz, “você vai me deixar ir nos 15 anos do meu amigo? Vai comprar para mim essa calça que está na moda? Ou me vai dar 10 pesos para ir não sei onde?” Então é isso, seguem velando por seus interesses, tem direito e seguem velando. E um dia serão maiores e se casarão. O homem estará buscando trabalho, aumento de salários, a mulher igual. E tratando de fazer com que o pouco salário alcance para pagar aluguel, comprar alimento e as coisas que tem que fazer. Os políticos sabem o que o povo quer e por isso o engana e diz que vai fazer. E muitas vezes ficamos como crianças, com medo, sem querer nos meter em política, porque ser político faz com que te assassinem, com que te levem preso, como crianças assustadas. No entanto, quando há eleições aqui na Bolívia o político te dá de presente um gorro ou umas sacolas de macarrão. Assim enganam o povo e lá vamos nós votar. Ou antes, me lembro quando cheguei aqui em Cochabamba e estava como candidato a prefeito esse que se chamava Manfred Reyes Villa, que diziam que era o bombom, que era muito bom tipo, “ai que simpático”, diziam. “Vamos votar nele”. As mulheres votaram nele porque era simpático. Sempre estamos votando pelo que nos diz a propaganda, pelo que vemos, mas não por uma linha, por uma coisa.

E PARA MANTER ESSE SISTEMA, TENTARAM COMBATER AOS OBREIROS...
É porque nos uníamos através da central obreira e lutamos sempre. De mil maneiras tentaram nos destruir. Em 1985 fecham as minas, com o pretexto de que a época do estanho havia passado. Mas as minas mais rentáveis continuam produzindo nas mãos de estrangeiros. E jogaram os obreiros na rua. E pensávamos no nosso acampamento, nessa casa que ocupei desde que era menina. Pensei que era minha casa. Mas justo em 1985 nos dão 24h para desocupar as casas: “Fora, fora, fora”. E nos botaram a todos. Quando saiu a lei de desocupar os acampamentos, de nos retirar a todos, nos olhávamos entre todas as famílias, os vizinhos, nossos filhos, e choramos. “Aonde vamos? Não sei”. E as wawas (crianças) igual não queriam ir por seus amiguinhos, sua professorinha, sua escolinha. Estivemos seis meses agüentando isso. A empresa já não nos dava nem um pão nem nos pagava o salário. Diziam: querem ir-se damos o dinheiro da indenização. Assim que agüentamos muito tempo com marchas, protestos, mas não pela decisão de nos botar da mina apenas. A central obreira era forte e por isso nos botavam mineiros, operários, construtores. Porque o decreto 21060 diz que o patrão tem direito a livre contratação de seu pessoal. Antes não havia essa lei. Ninguém podia despedir os obreiros sem uma causa justificada. Teriam que justificar porque estavam demitindo. Mas pela lei de livre-contratação, da noite para o dia estavam botando os obreiros e contrataram por salários mais baixos outro pessoal, mais jovem. O pai dos meus filhos trabalhou 30 anos de sua vida e de tudo isso lhe deram 3 mil dólares de indenização. Com isso não podíamos comprar nem um pequeno lote, nem uma pequena casa. E como já era velho, a primeira carta para se retirar foi mandada a ele. Fomos retirados do nosso trabalho, do lugar onde vivemos toda nossa vida, onde estão nossos mortos, onde envelhecemos. Posso te dizer com muita segurança que o que queriam era acabar com a central obreira, que era o que parava tudo. Isso porque sua vanguarda era os mineiros, que sempre fomos unidos e conscientes da luta de classes e tudo isso. Destruíram tudo. Mas era como um fogo que estava ardendo. Para destruí-o repartiram as brasas e as brasas foram a todos os lugares. Essas brasas se espalharam pelo país e estão aí, ardendo.

A REPRESSÃO SEMPRE ESTEVE PRESENTE.
Quantas vezes, companheira, entravam de noite o exército e levavam nossas coisas. Se havia um livro novo, se havia um relógio, um rádio, um televisor, o carregavam. Uma vez esses vendedores de livros nos estavam dando esses dicionários Larousse a crédito. E uma das minhas filhas uma vez disse que a professora havia pedido esse livro e que era completo e que os pequenos que ela tinha não serviam e não queria largar o livro. E nos deram seis meses para pagar o dicionário. E estava assim feliz quando o exército invadiu nossa casa e o primeiro que levaram foi o tal livro. E ela chorava: “ai meu Larousse não, meu Larousse não, ladrões, estão levando meu Larousse”. E quando se deram conta os militares de que ela estava gritando que estavam roubando seu Larousse, colocaram entre a porta e a janela três metralhadoras, junto com nossas coisas, para dizer que eu tinha armamento e por isso estavam levando minhas coisas. Depois que passou o conflito os companheiros vieram me falar, mas companheira, como você pode ter sido tão tonta, porque não nos deu as armas para lutar e eu falava “que armas o que, se eu tivesse essas armas imagine se eu não ia me defender”. Totalitarismo é isso, que levam suas coisas, não te deixam falar, não te deixam gritar, que te maltratam e não há liberdade.

QUAIS ERAM OS DESAFIOS QUE A MULHER TINHA QUE ENFRENTAR NAQUELA ÉPOCA E QUAIS SÃO OS DESAFIOS HOJE?
Eu penso que a discriminação a mulher também tem seu objetivo político. Isso veio com a cultura européia, a começar pela religião. Dizem que por culpa de Eva perdemos o paraíso. Ou quando fazemos esse sinal, Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, onde está a mãe? De onde nasceu o Filho? Começa daí a discriminação contra a mulher. A mulher em nosso país não ensinaram nem a ler, nem a escrever. Diziam que nos mulheres tínhamos que ser educadas apenas para descascar bem as batatas, moer a pimenta e olhar as wawas. Meu pai foi um homem de muita inteligência que brigou muito para que eu entrasse na escola. Estive seis anos na escola, depois me casei, tive meus filhos. Os ajudei com as lições da escola enquanto pude, mas chegou um momento em que eu não sabia mais as matérias para ensinar-los. E diziam: “ah a mamãe agora é malvada, não nos quer ensinar”, não podiam crer que eu não sabia. A mulher devia ter mais conhecimento que o homem, pela posição que ocupa como mãe, porque tem que ajudar a seus filhos. Quanto dói a ignorância quando não se pode ajudar os filhos. Quando pela primeira vez se organizaram as amas de casa em Siglo XX todo mundo as criticou. Diziam que íamos mandar o homem a cozinhar e a cuidar das wawas. “Ai que atrevidas!”, diziam. E insultavam as mulheres que se organizavam com grosserias. Dizer que era do comitê era como dizer que era prostituta. Até meu marido tinha uns ciúmes terríveis, queria saber qual dirigente era meu amante, com qual eu estava e coisas assim. Que nos haviam visto e todas essas coisas. Ao final nossas lutas eram conjuntas e não havia mais dessas coisas. Hoje, um problema que há entre nós mulheres é a inveja. Ninguém, nem a filha de um rei, pode fazer as coisas sozinha. Temos que ser tolerantes e solidarias entre nós. Temos que aprender a respeitar-nos e também a respeitar nossas debilidades. É não pensar que você sozinha pode fazer tudo, pode ser que outra pessoa saiba fazer melhor que você. Além disso, perder o medo é o principal. Pouco antes da greve de fome que fizemos (em 1976) um padre me chamou para dar uma palestra. E o exercito proibiu, diziam que era zona militar e não se podia. “E agora, que vamos fazer?” “Vamos”, eu disse ao padre. O padre então colocou o microfone bem forte, eu falando as coisas que tinha que falar e as pessoas foram chegando, se aproximando. E eu falei no microfone, a todo volume: “Olha companheiros, eu sei que me estão escutando, pois eu vou fazer uma pergunta. Quem é nosso inimigo? Quem é nosso inimigo principal? Vocês dirão que é o exército. Os paramilitares. O governo. O imperialismo norte-americano. Não, companheiros. Nosso inimigo principal está em nós mesmos e é o medo. Esse medo que nós temos. O dia que matarmos o medo em nosso corpo não haverá forca capaz de nos impedir. Quando todos perdermos o medo, vamos nos unir e vamos ser fortes.”

EM ALGUM MOMENTO VOCÊ TEVE MEDO?
Em muitas oportunidades eu tive medo. Um não é super homem ou super mulher, isso é mentira. Quando se está presa, por exemplo. Quando se sabe que vão te torturar. Quando chega a noite. Depois que perdi meu filho na prisão via um militar na rua e sentia tanto medo, não podia nem falar e queria correr e escapar.


QUE TE MOTIVA A SEGUIR?

O exemplo das pessoas. Choramos, enterramos nossos mortos, e seguimos adiante. A raiva impulsiona, não paralisa. Nossos pais morreram cuspindo os pulmões, fazendo riqueza para outros, e, todavia não nos resta nada. Quando vemos meninos que caem nas drogas por não resistir a sua miséria, sua fome e sua solidão nas ruas, e, no entanto, outra gente tem tanto. Isso dá mais força, seus conhecimentos te dão mais força. O exemplo do seu povo te dá mais força. E sempre lembro dos conselhos do meu pai, meu pai sempre me aconselhou muito. Muitas vezes tive momentos muito tristes. Senti uma grande dor quando soube que mataram minha irma, quando saí da mina... Tanta dor, muitas vezes, muitas...

QUE NÃO FARIA SE PUDESSE VOLTAR NO TEMPO?
Às vezes nos distraímos brincando. Eu participaria mais da luta se soubesse mais coisas antes. Agora mesmo me dói que já não posso caminhar muito, que não estou muito bem de saúde para fazer todas as coisas que são necessárias. Não posso participar como eu gostaria. Eu vim do povo, o povo me ensinou tudo que eu sei. E agora que o povo necessita quadros novos, gente nova, tudo isso, minha obrigação é devolver ao povo o que aprendi do povo. Essas enfermidades me atrapalham um pouco. Tive embolia pulmonar, mas tenho que seguir.

QUEM É DOMITILA HOJE?
Meu pai foi campesino e trabalhador mineiro. Eu me sinto muito orgulhosa. Minha vida está relacionada com meu povo. Sou mineira. Filha de mineiro. Esposa de mineiro. E tenho muito orgulho disso.

QUE TE FALTA FAZER?
Continuar. Continuar a luta, conscientizar. Queria ter o poder de falar com toda a gente para transmitir toda a experiência para que não cometam os erros que cometemos e possam seguir adiante. Seria tão lindo uma aliança entre toda a América do Sul. Para que sejamos uma só força, com mais segurança. Não nos unimos porque criam regionalismos, mas temos que nos unir, mais ainda agora que a Madre Tierra está agonizando. Quando tudo se acabe que vamos fazer? Por acaso vamos comer dólares? Nesse momento até parece que não existe porque lutar, mas é agora que temos que ser mais firmes na luta.

Um comentário:

LaMaga disse...

Olá Lídia, parabéns pelo seu trabalho. Eu também sou uma admiradora dessa mulher forte, guerreira que nos inspira tanto. Gostaria muito de conhecê-la pessoalmente, tive o prazer de conhecê-la apenas através do livro "Si me Permitem Hablar". Estive na Bolívia em 2007 e pude conhecer de perto uma realidade que nos deixa vivos, com vontade de lutar, sermos iguais a Domitila. É um povo lutador, que nos ensina até com o olhar. Minha visão do mundo mudou muito após conhecer a Bolívia.
Divulgue bastante sobre ess@s guerreir@s dignos de exemplo.
Gracias!!!
Aline Nóbrega