sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Borboletas e furacões


Um dia de desastre, um dia de beleza. Os livros embaixo do braço, a crença de que todavia se pode fazer alguma coisa pelo mundo, por esse seu mundinho medíocre, sua bolha delineada com a imaginação débil. Do alto dessa suposta sabedoria ele acha que conhece pontos fracos dela, pensa que conseguiu decifrar sua debilidade. E ignora tanta fortaleza. "Não tem problema", ela pensa. "É uma carta na manga". Ela escuta essa musica. Essa musica que ele nunca dedicou, mas que escutaram juntos. E parece tão bonito. E ela decide: é nossa. Borboletas e furacões. E ele nunca soube.

Ele nunca sabe tanta coisa. Tanta coisa desse mundo particular, tão privado, tão fechado, tão solitário. Tão tristemente solitário, ainda que acompanhado. É a solidão mais triste, dizem. A solidão acompanhado. Esse monte de gente, essas bocas que riem devorando almas, olhos sedentos de algo, ouvidos fechados para o outro. Esse monte de gente que não enche vazio. Depois de tudo, ela olha a cama desfeita. O corpo imóvel, traste de carne do sexo masculino, ainda jaze ali, fazendo volume. Ela fecha os olhos. Sente o ar abafado do apartamentinho. Agarra os sapatos. E de pés descalços sente o chão frio e as migalhinhas no piso descuidado. Abre a porta. E com uma sede desesperada, a cidade a devora. Borboletas e furacões.