segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Capitu



Eu, você, a moça que vende sonhos na padaria, a super top model maravilhosa. Basta um pouco de sensibilidade para que se perceba a Capitu em cada uma de nós. O romance de Machado de Assis não deixa gerações apaixonadas graças às paranóias de Bento Santiago, nem aos superlativos de José Dias. É a moça dos olhos de ressaca, que afogam sempre os leitores. E todas nós temos um pouco desse encantamento.

Sei que já faz algum tempo que acabou a microssérie maluca sobre o livro que a Globo fez, mas ela teve cenas tão deliciosas e mágicas que só agora digeri tudo. A cada quadro, uma fotografia perfeita, com cenas encantadoramente teatrais. Eu já tinha esquecido minha paixão por esse romance, mas por muitas noites a moça da Rua de Matacavalos ficou na minha cabeça na adolescência. Primeiro pelo mistério. Fernando Sabino, na tentativa de tentar esclarecer essa dúvida que nem Machado seria capaz de esclarecer, escreveu tudo em terceira pessoa no romance Amor de Capitu.
Mas será mesmo que tirar as palavras da boca de Bentinho mudaria alguma coisa? Corri e comprei o livro para ver, mas não. Porque as idéias e neuroses do nobre advogado que não quis ser padre ainda estavam ali, só ele foi ouvido. Sempre fiquei pensando o que Capitu diria se pudesse se defender. E na verdade acho que Bento bem que tinha um complexo de inferioridade que fazia com que tivesse essas fantasias malucas. Percebe-se nas entrelinhas que ele se achava bem menos que Capitu. Ela era mulher forte, dona do próprio destino, e não era permitido ser assim. Meu sonho era alguém escrever o ponto de vista de Capitu. Mas ainda bem que Machado não o fez, porque, bem, conhecendo Machado como conheço, sei que ele deixaria as coisas piores com sua fina ironia.
Embora esse mistério seja o que mais intriga a maioria dos leitores, a microssérie mostrou que o romance vai muito além disso. As críticas sobre os costumes da época refletidas na fantástica ironia de Machado de Assis, os quadros perfeitos, as cenas lindíssimas. Euclydes Marinho e Luiz Fernando Carvalho apenas transformaram em imagem as palavras do escritor. Letícia Persiles esteve maravilhosa. Era a Capitu que eu imaginava. Maria Fernanda Cândido também esteve perfeita. E o Bento Santiago de Michel Melamed? Melhor, impossível. Teve muita gente que achou chato, eu, particularmente, me deliciei.


Abaixo, minha cena preferida... Penso que resume como Bento sempre esteve envolvido pelos encantos de Capitu, como essa mulher o atraía, seduzia. Sacada simplesmente maravilhosa da produção...


http://www.youtube.com/watch?v=8NOE8xiC_Bo

sábado, 27 de dezembro de 2008

Natal?

Pensava que era só comigo, mas esse ano ouvi pelo menos cinco pessoas dizendo que não gostam do Natal, ou o consideram triste. Será que antes eu não via isso ou as pessoas estão mesmo mais descrentes? Todo mundo numa correria danada em busca do presente para agradar os outros, mas grande parte dessa gente reclamando de uma coisa estranha no coração, e no dia seguinte: "Acho Natal triste" ou "Não gosto do Natal".
Antes, as luzes da cidade e o cheiro de pipoca na porta da igreja me deixavam feliz, com uma sensação deliciosa de conforto. Mas agora parece que ficou faltando algo, e de repente aquelas luzes não faziam mais tanto sentido, como se tivessem perdido seu brilho.
Muito clichê todo mundo escrevendo sobre o verdadeiro espírito de Natal. Todos os filmes de Natal que têm o mesmo assunto desde sempre. Os especiais de final de ano das emissoras...Tudo tão cansativo. Não sei o que eu queria realmente nessa noite feliz. Talvez quisesse recuperar um pouco da fé que perdi no meio do caminho. Tanta desilusão...
Todo mundo fala em espírito de Natal, em ajudar o próximo. Eu não senti isso esse ano. E o pouco que fiquei sabendo, também me pareceu um grande clichê. E me pareceu meio idiota todo mundo resolver fazer alguma caridade nessa data, quando na verdade as pessoas sentem fome e frio e precisam de atenção e carinho durante todo o ano. É como se pudéssemos ser egoístas, frios, preconceituosos, homofóbicos e cegos durante todo o ano, e levar comida para os pobres no Natal apagasse tudo isso e no próximo ano repetimos tudo e somos igualmente redimidos pela noite de Natal.
O Natal era minha data preferida. Não sei porque deixou de ser, nem onde me perdi no meio disso tudo. Só sei que esse ano senti, como tanta gente, uma grande tristeza. E enquanto arrumava a casa para a noite feliz, o cheiro de ave assando na casa do vizinho invadia minhas narinas. Queria fechar os olhos e pensar que essa era só mais uma noite como outra qualquer. Pensar que ela é especial enquanto eu estava em casa pensando em tudo que não fiz em 2008, sozinha com episódios antigos de seriados, era muito muito ruim. Mas o cheiro do assado invadia tudo só para me provocar, só para me lembrar do que já não sou e nem acredito mais. Era um estupro olfativo, uma ofensa. Mostrava que alguém estava comemorando. Talvez esse alguém fosse mais um que comentasse no dia seguinte como é triste o Natal. Ou talvez seja uma rara pessoa que ainda consegue sentir algo nessa data - que não seja impulso de comprar - e comungar com os outros.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Pagu


Vazio. O que desespera a todos nós não é exatamente o medo, nem a tristeza, nem a ausência da coragem. É o vazio. É querer dar à vida um significado que não sabemos qual é. Queria ter a serenidade da Maitê Proença, quando ela falou numa palestra esse ano aqui em Goiânia que “se não sabemos o motivo de estarmos aqui, que pelo menos seja agradável”. Juro que tentei e sempre tento, mas às vezes é extremamente difícil.
Como fazer ser agradável? Sorrindo para todos? Talvez. Fazendo pequenas coisas diárias que façam alguém feliz? É, isso também é ótimo e alivia bastante. Fazer coisas que dêem um prazer momentâneo? Funciona por um tempo. Mas sempre volta aquele questionamento de "que utilidade tem minha vida para o mundo?".
Acho que isso sempre existiu em mim, como a cada dia que passa comprovo que existe em todas as pessoas, mas sinto isso de forma mais acentuada desde que entrei na universidade. Eu pensava que o jornalismo iria me fazer feliz e me satisfazer. Mas desse ofício veio como que uma obrigação de fazer algo pelo mundo, algo que não sei o que é. Na adolescência eu acreditava que meus pequenos trabalhos em movimentos da Igreja Católica mudavam de alguma forma o mundo, mas não sei até que ponto tudo isso era verdade. Me deparei com tantas mentiras que não suportei continuar. Me desespera pensar que no jornalismo não vou conseguir fazer algo que seja útil. É delicioso ser elogiada por uma ou outra matéria. Mas é tão angustiante pensar em que isso vai mudar a vida das pessoas...
Acho que pesa a responsabilidade do que sempre acreditei ser jornalismo: uma forma de fazer algo pelo mundo. De denunciar, ser crítica, mas também de mostrar a beleza das coisas. Mas tem dia que me sinto murchando, meio sem crença, meio com a ilusão capenga.
Há dias em que penso se realmente as pessoas querem ler o que eu acho que elas querem. Se realmente querem alguma beleza ou ver o lado dos seres humanos que ficam escondidos sob os estereótipos que insistimos em reafirmar. O Edvaldo, grande mestre do Jornalismo Literário, garante que sim. E eu quero tanto acreditar nisso, quero tanto, quero com todas as minhas forças.
Essa semana li Paixão Pagu – A autobiografia precoce de Patrícia Galvão. Deus do Céu! Cada linha era uma facada. Que mulher foi essa Pagu. Talvez eu tenha sentido mais porque – claro que em escala menor, porque né, quem sou eu – me identifiquei. Sabe, ela procurava um ideal pelo qual pudesse entregar sua vida. Tentou o Modernismo, o Comunismo...e mais ismos...E nunca encontrava!
Se decepcionou com a vanguarda modernista arrogante que assim como muitos dos intelectuais de hoje querem criticar sem ver os próprios defeitos. Como são vaidosos e chatos os intelectuais. Deve ser por isso que prefiro a gente comum, que não se esforça por ser encantadora e por isso é muito mais interessante que os intelectualóides que querem a todo preço provar sua superioridade.
Se decepcionou com o comunismo, uma causa pelo qual entregou a vida e na qual tentou provar toda sua fidelidade e paixão, que foi ignorada. Os comunistas eram o extremo dos modernistas: queriam tanto valorizar o operário que precisavam rebaixar os que pensassem serem burgueses.
Sem falar nos amores dessa mulher. Desde muito cedo, para ela cada relacionamento era uma busca por se encontrar e encontrar amor de verdade. Eu ia escrever que todas nós mulheres temos essa ânsia de preencher nossa falta de alguma coisa no peito com nossos amores. Mas não. Os homens também têm esse vazio, essa sede. Também têm essa procura. Isso é visível, perceptível demais. Os vazios de todos parecem gritar no meio da rua.
Fico pensando como não ficou o coração dessa Pagu que tanto lutou contra o vazio de ideal, que tanto buscou algo pelo que lutar e não encontrou seu lugar por anos. Como o livro acaba no momento em que Patrícia Galvão é presa, nunca vou saber se ela morreu feliz ou se pelo menos por alguns instantes achou seu lugar no mundo. Não me parece verídico se eu não ler com as palavras dela. De repente os olhos de Pagu me pareceram muito mais vivos na foto da capa. Ela me parece hoje muito mais viva, quase um pedacinho de mim. De repente senti muito mais frio e meu vazio começou a gritar ainda mais. Será que eu vou morrer feliz ou ao menos por alguns instantes achar meu lugar ou o ideal pelo qual daria a vida?
Só quero não ser morna. Me recuso a aceitar esse vazio. Não interessa se vou conseguir ou não vencê-lo, mas é minha obrigação tentar. Se for para morrer, que seja de paixão, não de tédio.

sábado, 15 de novembro de 2008

Rituais

Essa semana fui num ritual Maia para fazer uma matéria. Confesso que no início fiquei bem desconfiada. Vai saber né. Com tanto charlatão e maluco por aí, quando chega alguém com esse papo de ritual a primeira coisa que a gente faz é ficar bem desconfiado. Mas adorei a história da mulher responsável por tudo e o ritual me fez voltar no tempo dois anos atrás. Essa cerimônia era para a Lua, já que era o primeiro dia de lua cheia e foi realizado à noite. A mulher se chama Gabriela, é mexicana, freira dominicana, super envolvida com a cultura Maia que conheceu no sudeste do México, em Chiapas, participa de rituais xamânicos e além de tudo está fazendo um curso de terapia de vidas passadas. Pensa que loucura que não somos na América Latina. Tudo junto e misturado. Se engana quem pensa que essa maluquice deliciosa é só no Brasil. É até um pouco estranho, sabe. No Brasil onde mais se fala em miscigenação, é onde temos mais preconceito e menos orgulho do sangue indígena e negro que carregamos nas veias.
Mas como ia dizendo, o momento do ritual foi uma volta no tempo. Me vi em Cochabamba, na Bolívia, numa comunidade com gente de todo o mundo, xamãs, alternativos, indígenas, curiosos. Mesmo estando num ritual à noite e no Brasil, realizado por uma mexicana, pude sentir de novo as sensações tão intensas de comunhão com a natureza e com tudo que nos envolve que experimentei sob o escaldante sol de meio-dia da Bolívia. Parecia sentir o sol sobre minha cabeça e cada grão de areia sob meus pés. A delícia de não estar separada do universo, mas de estar totalmente integrada a tudo que Deus criou. Tudo parece tão cuidadosamente integrado, ligado.
Isso me deu uma saudade enorme, uma sensação de nostalgia e ao mesmo tempo uma grande alegria de fazer parte do mundo. Não sei o que acontece, mas me sinto tão atraída pela cultura indígena. A cada dia que passa tenho mais e mais vontade de conhecer a fundo essa parte da nossa América Latina, linda, misteriosa, e tão mais sábia que os conquistadores que chegaram por aqui. Dá vontade de gritar, dançar na chuva e comemorar sem motivo aparente, apenas por estar viva.
No mesmo dia falei com minha hermanita boliviana. Engraçado. A cada dia tenho mais certeza de que coincidências são existem. Tudo parece ser obra de uma Força Maior. Nós mesmos fazemos nosso destino, mas essa Força parece nos indicar rumos e usar sinais para nos mostrar que direção é melhor seguir e qual é nosso caminho. Eu sonhando com a Bolívia, chego no msn e depois de muitos e muitos dias sem ter notícias, minha hermanita está on line, falando comigo. Foi rápido, mas muito bonito e me fez sonhar ainda mais com minha super viagem à Bolívia para fazer meu trabalho final de Jornalismo Literário. Meu sonho é mostrar para toda a gente ignorante que me olha com riso sarcástico e diz que não há nada de interessante na Bolívia e também para aqueles que na inocência me perguntam o que tanto me encanta nesse lugar, toda a magia que transformou meu coração e ainda transforma um pouco mais a cada dia. Conhecer, compreender - essas culturas e ao mesmo tempo a mim mesma. Ai que vontade de armar minhas trouxinhas agora mesmo e cair no mundo...

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Apelo ao assessor

Muito assessor esquece que é jornalista e não tem a menor solidariedade para com o pobre do repórter que precisa entregar uma matéria. Mas o pior é que o assessor impiedoso que faz trabalho mal-feito, também demonstra pouca inteligência. Por alguma dezena de vezes tive que ficar ao telefone imploraaando a assessores para mandar material que beneficiaria a eles próprios. Assessores: o repórter é seu amiguinho e parceiro e não seu inimigo cruel e implacável. Se você teve tempo para mandar o release de um evento, por favor, seja esperto e ajude na divulgação das informações corretas desse evento.
O repórter tem pouco tempo, muita coisa para fazer, gastrite, um editor exigindo a matéria com urgência. Poupe esse ser humano de mais estresse e colabore. Sério, dá vontade de chorar quando a gente pensa que tudo está bem e todas as informações ok, e seu editor te liga para comunicar que elas não estão lá. A pessoa te garantiu que elas estariam lá, a gente infelizmente não pode ficar até o fechamento do caderno para não levar advertência por passar do horário, e aí quando você está em casa desesperado fazendo outros trabalhos, descobre que ahá! As coisas que deveriam estar lá, bonitinhas, não estão.
A gente é repórter, não adivinho. A gente não vai olhar para uma foto e identificá-la, se nem o assessor soube dizer quem são os indivíduos. A gente precisa de boas fotos, que não fiquem quebradinhas no jornal. A gente precisa de programações exatas e organizadas, de informações corretas. Por favor, assessor, colabore. Seja parceiro do repórter, pelo bem do seu evento.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Medo

Eu sinto a violência cada vez mais perto. Quando era criança, pensava que era algo que estivesse só nas guerras civis na África ou nas brigas do Oriente Médio. Em garotos que metralham colegas em escolas estadunidenses. Depois fui vendo pela televisão um monte de desgraça no Eixo Rio-São Paulo, até não agüentar mais assistir a tanta morte nas favelas, assassinatos e todas essas coisas. Ainda achava que estava longe de mim. Mas há alguns dias uma batida de trânsito foi motivo para o pai de uma amiga apanhar até ter afundamento de crânio. Aqui, em Goiânia.
O choque tem me deixado apavorada. Em estado de pânico disfarçado. A gente está ali, sorrindo com os amigos e pensando no perigo da volta para casa. É pavoroso pensar que você está na rua e pode a qualquer momento tornar-se apenas mais um corpo estendido no chão. No dia do meu aniversário, enquanto comemorava numa festa infantil, no quarteirão de baixo mataram um cara. Dizem que foi policial. Dizem também que foi traficante.
Dizem sempre muitas coisas e eu fico cada dia mais sem saber se peço ajuda a policiais ou se corro de medo deles. Tão triste isso... Fiquei uns três meses observando travestis, para um trabalho. Perto, dizem que há tráfico de drogas. Viaturas policiais andam por ali a noite toda. Durante três meses nenhum traficante ameaçou a mim ou ao Carlos, que mora perto e me fez companhia nesse período. As travestis também nunca ofereceram nenhum tipo de ameaça. Chegamos a abordá-las. Só senti medo quando num desses dias de observação uma viatura parou atrás da gente, apontou uma arma, mandou descer do carro com as mãos pra cima e continuou apontando a arma. Ainda bem que eram policiais honestos, que tinham que verificar o que aqueles dois cabeçudos estavam fazendo parados de madrugada justo naquele lugar. Graças a Deus. Mas com tanta coisa acontecendo, com tudo que ouve-se diariamente, eu vi aquela arma apontada pra mim e só pensava naquilo disparando. Congelei de medo.
Quando fui à Bolívia me falaram tanta coisa que me senti indo para o Afeganistão no auge da invasão pelos Estados Unidos. Mas quando cheguei lá vivi os momentos mais tranqüilos do mundo. Me senti em casa, me senti tão em paz. Lá onde falavam que era perigoso não senti metade do pavor que tenho sentido aqui. E eu que achava até pouco tempo atrás que vivia num lugar tranqüilo, me gabava de Goiânia ter paz. É triste. Triste pensar que seu namorado pode ser um cara que vai te matar no futuro. Que um motoqueiro pode te agredir simplesmente porque ficou com vontade. Que nenhum lugar é seguro. Triste pensar que a gente sai e realmente não sabe se e como vai chegar em casa.

sábado, 1 de novembro de 2008

Eu sou, nós somos

Quem sou eu? Descobri que sou várias. Ai, nada daquele clichê de mulher multifacetada. Sou uma só e ao mesmo tempo tenho dentro de mim várias outras. Sou aquela que grita e aquela que prefere falar baixinho ao pé do ouvido. Aquela que se esconde e ao mesmo tempo deseja correr na chuva e gritar nua de braços erguidos. Aquela que chora...chora tanto... mas é durona e algumas vezes até má. Sou aquela que ama com intensidade, que se decepciona com facilidade. Que luta pelo quer, mas que às vezes sente um cansaço que amarra e impede de seguir em frente.
Sou paradoxo, metáfora, metonímia e mais todas as figuras de linguagem que algum estudioso inventou para tentar explicar as confusões e sentimentos das pessoas quando se expressam. Sou poesia de amor. Sou o x de uma equação inexplicável.
São tantas definições, tantas. A gente quer tanto se entender, revelar-se ao menos a si mesmo. Que bobagem...as explicações são coisas tão bobas. A gente vive. Somos vários. Somos sem explicação.
Somos jornalistas, advogados. Somos bobos, idiotas. Somos gênios no nosso dia-a-dia. Somos péssimos e somos ótimos.
Não sou a melhor jornalista que conheço. Nem a pior. Ontem me senti, por alguns instantes, a pior. E chorei. Chorei porque não me imagino fazendo outra coisa na vida que não seja escrever. Não me imagino em outra profissão que não seja a de jornalista. Então, se sou péssima, o que fazer? Mas cheguei à conclusão de que não é exatamente isso... Fazemos coisas lindas e fazemos coisas ruins, mas o importante é ter ao menos a consciência tranquila. Ver os erros e tentar corrigir, mas não deixar absolutamente ninguém nesse mundo fazer com que pensemos que somos incapazes. Até porque isso na maioria das vezes é coisa da cabeça da gente. Às vezes as pessoas não querem dizer isso, a gente é que entende assim. As críticas fazem com que a gente cresça, os elogios nem sempre.
Sou um ser narrativo. Essa é uma das minhas mais importantes descobertas sobre mim mesma. Não interessa onde trabalho, não interessa o que eu faça nessa vida. Se trabalho com vendas, com festas, jogando bolinha pra cima no sinal. Eu preciso contar, preciso narrar. Eu vejo histórias por todos os cantos por onde ando, em todas as pessoas com as quais converso. Preciso narrar. Isso precisa estar em algum lugar. Ainda que eu não seja a melhor escritora, nem a melhor jornalista, eu sou o que sou. Tenho sede de aprender e vou melhorar a cada dia. Que me perdoe o leitor pelos meus erros e textos irregulares. Mas preciso escrever. Disso eu nunca vou desistir na vida.

sábado, 25 de outubro de 2008

De repente...

Olhar fotos antigas, despreocupadamente, dá uma saudade estranha. Saudade na verdade é uma coisa boa de se sentir. É gostoso olhar fotos e objetos do passado e sentir certo torpor, uma nostalgia, aquela cócega no coração que faz a gente suspirar. Mas ao mesmo tempo eu pelo menos sinto uma coisa estranha. Como se tudo estivesse rápido demais, se as pessoas passassem rápido demais pela minha vida e de repente me desse a vontade louca de agarrar tudo de volta, de gritar para essas pessoas que significaram tanto e hoje não estão mais aqui: "Volta, volta!"
Ao mesmo tempo olho para todas as pessoas que estão à minha volta, que significam tanto, e sinto um medo paralisador de que de repente elas não estejam mais ao meu lado. Porque tudo acontece de repente, não mais que de repente. Uma hora estamos de um jeito, no instante seguinte tudo mudou. Dá vontade de gritar: "Fica, fica!". Sinto falta de tanta gente e tantas coisas... Queria poder dizer a todas essas pessoas que passaram que sinto falta delas. Isso não inclui gente que me faz mal. Dessas quero total e absoluta distância.
Tudo passa rápido demais e às vezes não dou conta de assimilar muito bem esse ritmo. A gente viaja, come, bebe, dorme, ri, ama. No meio dessa velocidade vertiginosa, me perco. Entre meus livros, meus sonhos e planos, às vezes não sei mais o que fazer, nem o que é realmente importante. Tenho medo, sabe. Medo. A gente sempre tem milhões de coisas pra fazer e conhece centenas de pessoas, mas na verdade se sente tão sozinho. Somos todos solitários, querendo um pouco de atenção, um pouco de dedicação. Estamos em nossos mundinhos, abrindo neles apenas uma pequena brecha para implorar ao outro, tão solitário e egoísta quanto nós mesmos, um pouco de atenção. Eu tenho medo da solidão. De repente, não mais que de repente, quando as luzes das festas se apagam, os livros se fecham e a gente fica com o próprio vazio e apenas com isso.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A gente sente falta...



Vamos pensar friamente. Hoje, no último capítulo da novela do horário das 18h da Rede Globo, Ciranda de Pedra, não aconteceu nada que fugisse de um final normal de novela. Casamento, crianças felizes, vilão morto ou na cadeia, casal principal junto. Tudo normal – banal. Mas uma coisa me pareceu particularmente bonita: cenas de uma homenagem histórica. Muito bons os momentos em que personagens se tornaram hippies ou lutaram contra a ditadura. Eles foram inseridos na história do Brasil. As pessoas não vivem histórias flutuantes, e sim estão inseridas em contextos. Foi legal mesmo. Mas o mais bacana foram as cenas bucólicas do sem-graça casal principal no mar, bem no finzinho. Seria totalmente previsível se não estivéssemos tão acostumados a não ter nada dessa doçura na vida real.
Foi tão bonito... A novela nunca teve números significativos no ibope, mas para quem não viu, garanto que valeu a pena assistir alguns capítulos. Penso que faz muita falta esse romance inocente, cenas doces. Essa poesia cheia de metáforas da Lygia Fagundes Telles, que escreveu a história no qual se baseou a novela. São minúcias, pequenas coisas em algumas cenas em que eu pensava: “Ah, mas essa Lygia...”.
O final foi bem significativo apesar das cenas que os fãs de novela como eu (admito totalmente) já estão tão acostumados a ver. Mas será que estamos mesmo tão acostumados assim? Há quem diga que o amor não é essa coisa idealizada, esse mito, essa coisa doce e perfeita, e que esse mar de novelas românticas faz a gente se frustrar. Na verdade penso que num é bem isso. O que acontece é que estamos acostumados demais a ser brutos. A gente leva um choque e se assusta demais com a perfeição. Ou simplesmente não dá o menor valor porque é uma coisa tão fora de moda... Eu admito que tenho dificuldade em me relacionar com coisas perfeitas. Eu mesma me sinto tão imperfeita para querer esse amor de novela das seis. Sim, porque de novela das nove todo mundo pode ter. Sexo, sexo e sexo. Selvagem, com as paredes, com as vizinhas, com as galinhas, com o vaso de flores da sua casa. Esse é o amor do horário nobre hoje em dia.
Muita gente acha tosco, e eu mesma reconheço que as produções made in México são bem bobinhas. Mas sinceramente, eu prefiro as besteiras mexicanas ou colombianas, com sentimentos exagerados, à flor da pele, amores urgentes, corações pulsantes, à frieza da maioria dos seriados estadunidenses e dos nossos sucessos do horário nobre. Simplesmente porque sinto falta dessa emoção e desse exagero na vida real.
A gente aprende desde criança a ser racional, a não xingar os outros, a não brigar, a se conter sempre. Paulo Coelho tem razão quando diz que as emoções são cavalos selvagens. Isso mesmo caro leitor. Vire sua cara fria e racional para dizer: “Menina ridícula que vê novelas mexicanas e lê Paulo Coelho”. Mas pense bem quando te digo que mesmo nos meus momentos fuga na tosquice, eu, como você, não sei mais o que é amar. Aprendi a domar meus cavalos selvagens e me arrependo disso.
Mas o bom é que tem coisa não dá para controlar. Quando as emoções transbordam, eu me lembro dessa frase do Paulo Coelho que pelos anos nem recordo mais de que livro é (ou talvez seja um clichê da maioria das obras dele). E sinceramente, esses momentos são libertadores. Como quando você percebe que seu romance não é mais o mesmo e resolve chutar o balde. Quando resolve entregar-se a um sonho antigo. Ou quando assiste ao último capítulo da novela das seis aos prantos. É realmente libertador...

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O bichinho do mau-humor



O bichinho do mau-humor pode entrar no corpo de qualquer pessoa, a qualquer hora. Hoje ele me pegou de jeito o dia todo. Claro que não vou sair descontando nas pessoas à minha volta. Amigos, colegas e familiares geralmente não têm nada a ver com esse mal que pode chegar sem aviso prévio. O cansaço é o melhor alimento para o bichinho do mau-humor. No meu caso, a associação cansaço, fome e sono é o ambiente perfeito para o desenvolvimento de tal ser.
Dormir meia hora depois do almoço no calor infernal dos últimos dias em Goiânia pode piorar tudo. Se vai dormir de dia, o faça quando puder acordar só à noite, quando o clima estiver mais fresco. Ter que levantar da cama e vestir roupa para trabalhar é o fim. Principalmente se for para entrevistar um ser humano apático e que odeia falar. É desesperador.
É como diz Garcia Márquez, "A vida não é a que gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la". De fato, algumas pessoas têm uma história de vida incrível, mas por acharem tudo bobo preferem guardar para si. E fazem a gente sofrer para espremer um pouco de história. Isso me dá descrença sem fim. Existem pessoas de olhos brilhantes e pessoas de olhos opacos. Eliane Brum acerta em cheio quando fala isso, e a cada dia que passa percebo mais essas coisas. Não sei explicar o motivo dessa diferença. Mas a gente bate o olho e saca quando a pessoa tem olhos brilhantes e quando tem olhos opacos de quem mesmo tendo vivido coisas bacanas acha tudo banal.
O bichinho do mau-humor nunca se contenta em apenas habitar um corpo. Em alguns momentos ele rói os nervos das pessoas e provoca reações estranhas. No trânsito, por exemplo. Ele vem e dança sob a pele, se sacode entre as carnes da gente. Principalmente às 18h. Eu queria NUNCA precisar sair da minha casa ou trabalho nesse horário. Dizem que às 3h da manhã os demônios estão soltos. Eu discordo. O horário mais propício para o mal é 18h.
O instinto assassino de qualquer ser humano, mesmo que este pratique meditação transcendental ou seja um líder religioso semeador de paz, fica desperto às 18h no trânsito. A cada dia que passa tenho mais certeza que todas as religiões do mundo estão equivocadas ao descrever o inferno. Nada de caldeirões ferventes ou mármores escaldantes. O inferno é um eterno trânsito às 18h. Não existem chamas que atormentem mais o espírito.
E enquanto isso o bichinho do mau-humor se multiplica e se contorce... Hoje pela primeira vez mandei um cara à pqp no trânsito. Horrível isso. Mas quando se xinga alguém desconhecido a plenos pulmões muitos bichinhos do mau-humor morrem. É quase um vermífugo. Dá até alívio, sensação de leveza.
Mas só uma coisa consegue detonar de vez esses seres do mal. Cheiro de lar. Depois de toda a jornada diária, chegar em casa e respirar fundo sentindo o cheio do lar faz com que se esqueça totalmente do bichinho do mau-humor. Para evitar o retorno de tais seres, nada melhor que arrancar fora a roupa que aprisionou nosso corpo durante todo o dia e tomar um banho gelado. Talvez o estresse tenha sido feito para que possamos valorizar os momentos de calmaria. A roupa, para que aprendamos a valorizar o prazer do vento no corpo nu. O mau-humor, para que aprendamos a combater nossos demônios.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O Corpo


Um corpo de mulher. Ou seria de homem? Os dois estavam entrelaçados de tal forma que era impossível, naquela posição, saber de quem era o sangue que escorria dando origem a uma poça disforme. Calmamente o homem se levantou. Limpou na saia de seda as mãos manchadas de vermelho.
A menina se assustou ao ver tal cena na porta de casa. O hall do prédio de repente adquiriu uma aura estranha, pesada. Ela não queria ver aquilo, não queria ser testemunha de nada. Quando voltou para verificar se o que vira fora sonho ou realidade, os protagonistas não estavam mais no local. Apenas um leve sinal de sangue marcava o chão. Ignorou.
A mulher pediu ajuda. A menina fingiu que nada acontecia. A mulher esguia não tinha mais corpo, mas lhe aparecia em sonhos, batia as portas dos guarda-roupas, entrava nas bonecas. Queria ser amiga da menina. Não descansaria até que alguém a ajudasse a dar fim ao homem.
Contou histórias absurdas por meio de acontecimentos surreais. A menina acreditou. Com a boneca roxa que falava em mãos, foi até um estacionamento de supermercado. Ele não era um homem difícil. Seduziu. Podia ser tão sexy quanto a mulher loira e alta que agora era uma boneca em busca de vingança.
Um corpo de homem. Ou seria de mulher? Os dois estavam entrelaçados de tal forma que era impossível, naquela posição, saber de quem era o sangue que escorria dando origem a uma poça disforme. Calmamente a garota se levantou. Olhou em volta. Ninguém. No dia seguinte o noticiário tentava desvendar o mistério do corpo não identificado, encontrado com uma boneca roxa nas mãos.


sábado, 9 de agosto de 2008

Zumbi?

Zombie Walk Gyn:
"Zombie Walk é um movimento público organizado por um grande grupo de pessoas nas quais se vestem de zumbis. Geralmente caminhando ou correndo por grandes centros urbanos, os participantes organizam uma rota através das ruas da cidade, passando por shoppings, parques e outros locais com grande público.-Convido Você a Participar Dessa Também .-Mais informações no meu profile/ comunidade."

Isso foi um scrap que me deixaram no orkut. Tá, eu sei que pode muito bem ser um vírus. Mas eu tinha que comentar: que tipo de ser humano se veste de zumbi e sai correndo por ae? É tão bizarro que eu tinha que partilhar...

Fui pesquisar e essa idéia genial sem nenhuma explicação brotou no Canadá. Ótemo. Só pra acrescentar no bloquinho de coisas inúteis da noite.

Troféu joinha pro ser que me imaginou correndo vestida de zumbi pelo shopping.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Força e beleza



Depois de mil anos querendo escrever, não pude mais continuar trabalhando e resistindo às minhas inutilidades. Na verdade um monte de assuntos sobre os quais eu quis escrever foram se misturando, mas ao invés de formar uma miscelânea confusa, acabaram por me mostrar que são coisas que estão inevitavelmente entrelaçadas.
Hoje, quarta-feira, faz uma semana e meia que estou sem Inés Suárez. Não é uma parenta querida e muito menos uma amiga. É uma personagem de Isabel Allende. Ela me marcou como poucos personagens até hoje. Nunca havia lido nada de Isabel e sua linguagem clara e envolvente contribuíram para que eu me encantasse pelo livro Inés da minha alma, que impressiona ainda mais por não ter saído simplesmente da imaginação da autora.
Inés existiu de verdade e foi peça fundamental na colonização do Chile. Ela nos faz rir, nos deixa apreensivos e também faz chorar. Talvez não fosse ela o bravo Pedro de Valdivia não teria conseguido fazer do local uma colônia espanhola. Os indígenas mapuche teriam derrotado seus algozes e... Bem, não é o momento para eu opinar sobre o que eu penso que teria sido melhor. Isabel constrói a narrativa de uma forma delicada que conta a história sem colocar os espanhóis como os mocinhos que venceram os índios malvados, e nem se utiliza de um discurso indigenista hipócrita, que seria o caminho mais fácil. Seu foco é Inés. Ela junta histórias e utiliza a própria imaginação para falar da força da grande Inés Suárez.
Há uma semana e meia terminei o livro e estou órfã da presença de Inés. A mulher viveu em meados de 1500 e fez o que quis: se apaixonou em meio aos cheiros de vela das procissões católicas por um homem nada convencional, mas super sexy que a apresentou ao prazer antes do casamento. Casou-se, foi abandonada, e procurou pelo parceiro na desconhecida América não por amor, mas para não ficar estagnada. Inés quis ser mais do que uma costureira viúva recalcada cheirando a incenso. Envolveu-se com outros homens. Amou, se entregou. Foi amante, amásia, cozinheira, miserável, costureira, esposa, governadora.
Sinto falta da força de Inés Suárez que por uma semana me ajudou a ser mais forte. Simplesmente porque quero como ela, escrever minha própria história. Não tenho a pretensão de ser assim tão forte. Mas gostaria muito de descobrir em mim mesma pelo menos metade dessa força.
Visitando o blog do fotógrafo Antônio Guerreiro - http://antonioguerreiro1.blogspot.com - me deparei com fotos de grandes artistas em várias épocas. Alguns na década de 1970, como Caetano e Gal, no auge da luta política, da contestação por meio da música. Que caminhos eles percorreram para serem fortes o bastante para estarem ali e conseguirem eternamente tocar nossos corações e nos impulsionar a lutar? E qual é o caminho que eu tenho que descobrir?
Caco Barcelos questiona em entrevista à revista TRIP desse mês: “O que seu trabalho acrescenta para o mundo?” Essa pergunta foi em mim uma porrada violenta. Talvez eu não seja nunca a repórter que Caco é. Mas gostaria de ao menos mostrar através do meu trabalho a beleza das coisas. Todo mundo se esforça tanto por mostrar a sujeira por baixo do tapete, morte, violência, corrupção. Há quem me acuse de ser otimista demais, ou só elogiar as coisas, só ver o lado positivo e entrar em defesa. Mas não, eu só gostaria de questionar sim, mas de colocar um pouco de beleza em meio ao desespero. É bom e importante alguém que denuncie. Mas não quero só denunciar. Quero, como Inés Suárez, construir com minhas próprias mãos alguma coisa bonita que traga um pouco de cor. Há quem considere o belo fútil ou inútil. Mas todos temos sede dele. O que seria de nós sem a simplicidade do amor poético de Vinicius de Moraes? Sem a melodia das canções que falam de doçura e carinho? O que seria de nós sem a força dessa beleza? Seríamos simplesmente brutos. Inés, como sinto falta da beleza que sua força me deu para construir o meu castelinho de sons e cores brilhantes...

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Irmã-mãe-companheira-amiga-anjo


Existem pessoas que aprendemos a suportar e outras que até gostamos mas simplesmente passam por nossas vidas e acabam desaparecendo sem deixar muito rastro. Mas tem outras que são realmente especiais e amamos de verdade de todo o coração. Essas pessoas desconfio que nem são exatamente pessoas. São anjos que Deus envia para dar significado às nossas vitórias e dar forças nas nossas derrotas. Aqueles amigos-irmãos que carregam a gente no colo quando não conseguimos mais andar, mas que percebem quando nosso problema é preguiça nos fazem caminhar sozinhos. São bússolas que ajudam a nos encontrar quando estamos perdidos. São quem enxuga nossas lágrimas e ilumina nossos sorrisos.


Sem essas pessoas, a vida nem teria sentido. A coisa mais linda que existe é alguém poder dizer: "Eu tenho aqui comigo essas pessoas. Nelas eu confio minha vida". Eu tenho sim amigos lindos. Que me fazem feliz, que fazem de tudo para me ver feliz. Mas quero dizer especialmente para uma pessoa tudo que sinto e tudo que ela significa para mim. Buba eu amo muito você. Irmã, mãe, companheira, amiga. Me coloca no chão quando saio voando além da conta. Me dá asas quando desisto de voar. Ainda vou fazer seu perfil, maninha, como combinamos. Até porque temos juntas histórias dignas de filme (ou de livro...hauahua).


Tudo o que você fez por mim essa semana, assim como tudo que fez desde que nos conhecemos e tudo que vivemos juntas, foi e é extremamente especial para mim. Quero que você e todo mundo saiba disso. Que sem você, as coisas nem teriam a mesma graça, porque você é a minha maninha, meu anjo orientador. Colo com cheiro de mãe. Sorriso mais lindo. Amo muito mesmo você. Para sempre. Você ainda se lembra? "Os laços criados por Deus jamais serão desfeitos". Eu estou aqui, sempre para cuidar de você, assim como você cuidou de mim. Sempre.


sexta-feira, 20 de junho de 2008

Mônica


Ela já não era bonita, mas conservava na cabeça e nas mãos um cheiro bom de borracha macia e perfumada. O corpinho já não tinha vestido. Depois de anos, era só velha espuma agora magrela e murcha. Essa era a Mônica, minha boneca, primeiro brinquedo, companheira de choros e de descobertas. Eu nem lembro minha idade na época. Só lembro que essa era minha única amiga real. Sim porque eu tinha um verdadeiro batalhão de amigas imaginárias também.

Mas foi na Mônica que ensaiei meus primeiros rabiscos com uma caneta e isso foi sim uma manifestação de afeto. Ganhei essa boneca por teimosia: me agarrei nela e não quis mais soltar, de modo que só restou à minha mãe tirar dinheiro da onde não tinha para comprá-la. Ela era nessa época linda, grande e cheirosa, com vestido vermelho e sapatinhos pretos.

O dia em que a rabisquei foi algo espontâneo e simples. Tomávamos chá com outras bonecas na sala. Comecei a achar bonito o traço que sempre as canetas faziam no papel. Então tomei uma decisão. Peguei a caneta, aquele objeto até então desconhecido e desengoçado entre meus frágeis dedinhos e fiz um risco em um papel. Depois um na parede. Feliz com a descoberta, chamei minha companheira Mônica para que eu pudesse compartilhar a beleza daquilo:


- Olha Mônica! Vou te deixar mais bonita!
Ela até gostou do novo visual. Eu também. Mesmo murcha e rabiscada, para mim ela era a mais linda do mundo.


domingo, 15 de junho de 2008

Relíquias

Um festival de rock num cenário nada convencional. A área era ampla, como se fosse uma antiga mansão abandonada, ainda com características que faziam que faziam lembrar um grande salão que algum dia teve seu glamour. O salão cujo chão estava coberto de poeira cheirava a coisa muito antiga, esquecida pelo tempo. Grandes escadas partiam de um dos lados. Eram escadarias largas, de modo que era impossível se amparar com as mãos nos dois corrimãos. Tudo cheirava a pó.
Nas paredes relíquias de um tempo já esquecido (ou quase). Quadros com inscrições e códigos, alguns que nunca foram interpretados. E em cada cômodo, mais surpresas de deixar os olhos encantados. Antiguidades maravilhosas, divinas. O festival estava sendo realizado num velho museu. Aquilo era demais. Quem me conduzia pela maravilha coberta de pó era um arqueólogo que se dizia responsável pelo museu. Ele me mostrava cada detalhe, e cada grão de poeira era uma magia.
Nos detivemos em dois pequenos quadros em cima de uma mesa rústica. Os delicados quadrinhos eram de papiro e possuíam letras que nunca antes vi na minha vida. Mas meu coração se alegrou com aqueles desenhos como se soubesse que tipo de signo representavam. Eram lindos, delicados, singelos. Aquele que me acompanhava, vendo tamanho encantamento, deu-me de presente aquele material cujo valor nem poderia ser calculado.
Enquanto boquiaberta, me encantava com o presente, saí na varanda. De onde estava podia ver um amplo espaço aberto, muita terra e muito verde. Mas não foi isso que vi dessa vez. Milhares de vasos chineses flutuavam no ar, brilhantes. Eles vinham como que do céu, e enormes, pairavam no ar. Atônita, me perguntava como aquilo poderia estar acontecendo. Aquele que me acompanhava apenas sorria. De repente todos os vasos se juntaram, formando a imagem de uma taça gigantesca. Na frente da taça apareceu um homem e ao mesmo tempo em que eu me perguntava como aquilo tudo poderia estar acontecendo, um tecido fino e dourado pousou em minhas mãos. O homem postou-se à minha frente, colocando sobre o tecido em minhas mãos uma pequena caixa, e disse:

- Entregue as relíquias que estão aí dentro para as pessoas. Mas não da forma que muitos já fazem. Jogue, que aqueles que devem reconhece-las, as reconhecerão.

E homem, taça e vasos viraram fumaça, deixando em minhas mãos apenas a pequena caixa dourada sobre o tecido. Abri a caixinha. E então joguei para as pessoas do andar de baixo o seu conteúdo. Pequenas moedas hexagonais caíram no chão empoeirado, e mesmo com meu grito de que relíquias estavam no chão, poucos souberam reconhecer o valor daquelas moedas. Estavam todos ocupados demais. E muitas delas ficaram ali, talvez para sempre.

domingo, 20 de abril de 2008

Síndrome de Tin Tin (ou não)




Houve um tempo em que eu queria ser atriz. Era como o patinho feio que as meninas não tão desengonçadas de 13 anos não aceitavam muito bem em seu meio. Ou talvez isso fosse apenas complexo ou imaginação. Mas ser atriz era uma fixação. Não me imaginava como as gostosas da Globo, e sim como aquelas que, no palco, podiam ser outras. O encantamento começou com uma frase de uma atriz que já não me lembro quem é. Ela disse: “O mágico de ser ator é poder viver várias vidas em uma”. Um belo clichê. Todo ator ama falar isso. E a menina decidiu viver várias vidas em uma só.
Pena que não deu certo. Quando a timidez começou a ser vencida, outros problemas apareceram. É, não era para ser atriz. Desencanei então de querer ser alguma coisa. Mas um dia, a paixão pelas letras falou mansinho no meu ouvido que queria ser o rumo principal da minha vida.
Descobri que queria ser jornalista. Pelo motivo que todo mundo (ou quase) decide ser jornalista: ler e escrever era a única coisa que eu sabia fazer bem na vida. E então, resolvi um problema. Quando perguntavam o que eu queria ser, respondia que seria jornalista. Além do mais, nos filmes o jornalista sempre era o herói. Sempre fazia justiça. Ídolo maior? O Tin Tin, que rodava o mundo desvendando mistérios.
Ninguém nunca brigou, ou usou um argumento forte o suficiente para que eu desistisse. Ouvir que eu seria pobre nem me assustava. Acho que ficava mais assustada com a possibilidade de ser a Fátima Bernardes que todo parente citava (nada contra a Fátima). E até hoje tenho esse pavor de televisão.
Mas quando me perguntavam por que eu quis ser jornalista, nem sabia dar uma resposta muito exata. Eu decidi e quis, ué. Foi isso. Fez plim na minha cabeça e ponto. E em um monte de lugares pediam: escreva porque você decidiu ser jornalista. Não dava certo escrever: fez plim e decidi. E eu enrolava e enrolava. Nunca fiz um texto decente com esse tema. Nunca.
Mas hoje me deu uma vontade tremenda de escrever sobre isso por um motivo bem simples. Percebi por que escolhi ser jornalista. Tenho uma missão: contar histórias. E por isso resolvi começar o blog com esse texto. Quem sou eu? Acima de tudo, jornalista.
O trabalho que tive mais prazer na minha vida foi o temido trabalho de conclusão de curso. Sofri, como todo mundo. Mas cada texto que ficava pronto era um orgasmo. Cada pessoa com quem conversava me deixava em êxtase com suas histórias. Mas nunca tinha parado para pensar sobre isso. Sobre meu prazer em ouvir e escrever.
Hoje assisti um trecho de um documentário sobre os indígenas no Xingu. Tinha algumas das imagens mais lindas que já vi na vida. Pessoas. Olhos que contavam tanto... É difícil encontrar palavras para descrever o olhar do último pajé de uma tribo. É único. Profundo. Traduzir em palavras as histórias antigas sobre o mundo e suas origens que eles lutam para que não deixem de existir. É de perder o fôlego.
Vendo o trabalho da equipe que realizou o vídeo, entendi a minha escolha. Pela primeira vez percebi porque escolhi ser jornalista: não posso viver várias vidas em uma só, mas posso escrever sobre todas as vidas que eu quiser.