quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Enfim, Bolívia! - Parte 1

O vento que acaricia suave as folhas do mato que cresce abundante na beira da estrada. Que espalha o pólen, que refresca o suor do trabalhador cansado. Sim, sempre quis ser vento. Alguém aí conhece a história do encantado pássaro multicor que só tinha magia e beleza quando era livre para voar pelo mundo? Ele sempre partia, mas sempre voltava, porque seu amor pela menina nao deixava ele se esquecer dela. E assim como só tinha beleza e alegria quando podia voar, suas histórias só faziam sentido porque havia por quem retornar. Eu tinha 10 anos quando li essa história do Rubem Alves, mas a cada dia tudo isso faz mais sentido para mim.

Saí de Goiânia dia 30 de setembro, junto com o grupo de hermanos bolivianos que estavam em Goiânia para participar do IV BraBo e do Curso de Cine Sin Fronteras. E hoje estou em La Paz. Ontem estava com o nariz gelado igual o de cachorro, escrevendo com os dedos duros de frio e dezenas de meias e blusas. Hoje fez um frio suportável, quase calor. Esse lugar é mágico. Mas calma, né… Até eu chegar aqui muita coisa aconteceu e para provar que vale a pena jogar a mochila nas costas e se lançar rumo ä terras bolivianas, vou contar um pouco do que pude viver até hoje.

O ônibus da UFG fez o caminho pelo Brasil. Passamos por Campo Grande, Corumbá e várias outras cidadezinhas das quais infelizmente nao lembro o nome. O caso é que tudo foi muito rápido e só paramos para comer. A história começa mesmo é quando chegamos em Puerto Quijarro, que faz divisa com Corumbá, no Mato Grosso do Sul. É incrível como uma linha imaginária pode determinar em que país estamos. É só atravessar a tal da fronteira para se sentir na Bolívia. O cenário muda logo de cara: o estilo de algumas casas e pequenas empresas, o jeito de falar e se comportar. Isso se chama identidade.

Quando chegamos em Quijarro era hora de almoço e adivinhem quem me esperava, gente? A SOPA. As famosas enormes sopas bolivianas que nunca consegui finalizar na vida. Só para esclarecer: elas nao sao exatamente ruins, mas me enchem de tal forma que chega um momento que eu acho que nunca mais vou ter fome na vida. Aqui nesse frio de El Alto – La Paz, até que cai bem… Mas no calor é o tipo de prato que pode ser especialmente indigesto principalmente para nós brasileiros que nao estamos acostumados. Mas tudo bem, né? Quem tem fome nao escolhe, manda ver. E confesso que estava gostoso.

Ao contrário de 2006, dessa vez nao viajei de trem, que por sinal é muito confortável e nao tem nada dos relatos pavorosos que existem por aí. O grupo optou por ir de onibus até Santa Cruz. Recomendo a quem quiser fazer esse caminho que pague um pouco mais e vá de trem. Os ônibus podem ser bem desagradáveis e apertados… E olha que eu fiz o percurso acompanhada por ótimas pessoas e tinha um ombro muito confortável onde dormir. Chegar em Santa Cruz de La Sierra foi um alívio. Ai ficamos dois dias e duas noites de pura diversao. Resumindo: fomos muito felizes mas gastamos muito além do que deveriamos. É isso mesmo… A Bolívia é um destino vantajoso para os brasileiros por causa do câmbio, mas, se por um lado as coisas em La Paz sao realmente baratas, em Santa Cruz sao muito caras.

No primeiro dia Boris e Ruben me levaram para comer una típica parrillada boliviana. No restaurante os garçons colocam ao lado da mesa algo como uma pequena churrasqueira com varios tipos de carne. Isso inclui a teta da vaca, os testículos do touro e umas tripinhas. De desconhecido, provei só a teta. Os testículos nao vieram e eu já estava especialmente cheia para experimentar as tripinhas. Mas a carne estava gostosa. Aliás, nesses dias em Santa Cruz o que fiz bem foi comer. Os meninos e a Silvana, minha hermanita que encontramos depois, me levaram a um restaurante de comidas típicas bolivianas cruceñas – ou camba*. O restaurante se chama Casa Del Camba. Nossa… Quem passar por Santa Cruz nao deve deixar de ir a esse lugar. O tempero é delicioso. A comida camba é muito, mas muito boa.

A cidade de Santa Cruz de La Sierra é quente, agradável e bonita. Se parece muito com Goiânia em alguns aspectos. Uma coisa interessante é que lá tem muitos monumentos dedicados a mulheres. Isso porque o cruceño tem muito orgulho das suas mulheres, que dizem ser as mais lindas da Bolívia, além de boas maes. Há inclusive uma rixa entre a galera de La Paz e a de Santa Cruz por isso: dizem que as cruceñas sao as mais lindas, e no entanto burras, e as paceñas as mais inteligentes e fiéis, ideais para casar. Já as cochabambinas… Menino, nem queira saber… Sao valentes e batem nos maridos… Me contaram que a Delegacia da Mulher de Cochabamba passou a ser nao só da mulher, mas da violência doméstica em geral, porque lá quem leva cacete mesmo sao os homens.

No último dia em Santa Cruz fomos a um clube, o Aqualand. Muito divertido. Me lembrou os tempos áureos do Jóquei Clube quando eu era criança. Peguei até uma cor… O único defeito desse lugar é o preço: cada um pagou 70 pesos bolivianos para entrar. Em Santa Cruz também assisti a um filme no cinema. Liiindo, se chama Postales a Copacabana… mas essa é uma história que só vou contar daqui uns dias, quando eu mesma visitar esse lugar.

Da Santa Cruz quente e festeira vim para a mágica mas fria La Paz – finalmente. Quando cheguei nao fazia um frio terrível, mas a cidade está me testando e ontem quase morri mesmo vestindo um monte de roupas e mais uns casacos que peguei emprestados do Boris e que me deixam redonda igual um balao – mas pelo menos quentinha. Aliás, estou sendo mimada e bem cuidada além da conta, vou voltar insuportável para o Brasil.

Na verdade muitas outras coisas aconteceram até chegar em La Paz e o Boris me contou muitas histórias. É tanta informaçao e tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que infelizmente vou ficar devendo o relato de algumas partes disso tudo. No próximo texto vou contar sobre La Paz, a magia do Altiplano, um filme muito legal que eu vi chamado Zona Sur, sobre os ricos da cidade que estao falindo com a ascensao de uma nova burguesia paceña, e os preconceitos bem marcados que existem aqui na Bolívia.

*Camba: Esse era o nome do trabalhador rural da regiao de Santa Cruz. Os cruceños detestavam ser chamados assim. Hoje, com a ascensao dos valores tradicionais no governo Evo Morales, muitos cruceños tem orgulho de se dizer cambas.

P.s.: Aos curiosos quanto ao trabalho que vim fazer aqui, digo que ainda estou pesquisando. Ainda essa semana vou atrás de agendar entrevistas e tudo o mais. Aos mais curiosos ainda que querem saber do lado pessoal da viagem, estou feliz como nunca estive na vida.

P.s.2: Perdoem a falta de acento e os erros de ortografia mas o teclado daqui, configurado em espanhol, faz questao de me boicotar.

2 comentários:

Anônimo disse...

eu sou curioso, mas.....
eu sei dos projetos profissionais...
eu sei da vida pessoal e sentimental...
hohoho
morram de inveja outros curiosos!
=P
mas o melhor eh q vc ta feliz marmota!!!
volta logo!
runnnn

Anônimo disse...

Gente! Que coisa mais linda! Juro que queria estar com vc aí para sentir esse friozinho (quanta ironia). Aqui em Goiânia está um inferno de quente.
Fico muito feliz com sua realização aí na Bolívia e por ver que vc está suspirando feito aquela gordinha da novela Carrossel.
Vc merece!
Beeeeeeeijos