segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Medo

Eu sinto a violência cada vez mais perto. Quando era criança, pensava que era algo que estivesse só nas guerras civis na África ou nas brigas do Oriente Médio. Em garotos que metralham colegas em escolas estadunidenses. Depois fui vendo pela televisão um monte de desgraça no Eixo Rio-São Paulo, até não agüentar mais assistir a tanta morte nas favelas, assassinatos e todas essas coisas. Ainda achava que estava longe de mim. Mas há alguns dias uma batida de trânsito foi motivo para o pai de uma amiga apanhar até ter afundamento de crânio. Aqui, em Goiânia.
O choque tem me deixado apavorada. Em estado de pânico disfarçado. A gente está ali, sorrindo com os amigos e pensando no perigo da volta para casa. É pavoroso pensar que você está na rua e pode a qualquer momento tornar-se apenas mais um corpo estendido no chão. No dia do meu aniversário, enquanto comemorava numa festa infantil, no quarteirão de baixo mataram um cara. Dizem que foi policial. Dizem também que foi traficante.
Dizem sempre muitas coisas e eu fico cada dia mais sem saber se peço ajuda a policiais ou se corro de medo deles. Tão triste isso... Fiquei uns três meses observando travestis, para um trabalho. Perto, dizem que há tráfico de drogas. Viaturas policiais andam por ali a noite toda. Durante três meses nenhum traficante ameaçou a mim ou ao Carlos, que mora perto e me fez companhia nesse período. As travestis também nunca ofereceram nenhum tipo de ameaça. Chegamos a abordá-las. Só senti medo quando num desses dias de observação uma viatura parou atrás da gente, apontou uma arma, mandou descer do carro com as mãos pra cima e continuou apontando a arma. Ainda bem que eram policiais honestos, que tinham que verificar o que aqueles dois cabeçudos estavam fazendo parados de madrugada justo naquele lugar. Graças a Deus. Mas com tanta coisa acontecendo, com tudo que ouve-se diariamente, eu vi aquela arma apontada pra mim e só pensava naquilo disparando. Congelei de medo.
Quando fui à Bolívia me falaram tanta coisa que me senti indo para o Afeganistão no auge da invasão pelos Estados Unidos. Mas quando cheguei lá vivi os momentos mais tranqüilos do mundo. Me senti em casa, me senti tão em paz. Lá onde falavam que era perigoso não senti metade do pavor que tenho sentido aqui. E eu que achava até pouco tempo atrás que vivia num lugar tranqüilo, me gabava de Goiânia ter paz. É triste. Triste pensar que seu namorado pode ser um cara que vai te matar no futuro. Que um motoqueiro pode te agredir simplesmente porque ficou com vontade. Que nenhum lugar é seguro. Triste pensar que a gente sai e realmente não sabe se e como vai chegar em casa.

Nenhum comentário: