sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A gente sente falta...



Vamos pensar friamente. Hoje, no último capítulo da novela do horário das 18h da Rede Globo, Ciranda de Pedra, não aconteceu nada que fugisse de um final normal de novela. Casamento, crianças felizes, vilão morto ou na cadeia, casal principal junto. Tudo normal – banal. Mas uma coisa me pareceu particularmente bonita: cenas de uma homenagem histórica. Muito bons os momentos em que personagens se tornaram hippies ou lutaram contra a ditadura. Eles foram inseridos na história do Brasil. As pessoas não vivem histórias flutuantes, e sim estão inseridas em contextos. Foi legal mesmo. Mas o mais bacana foram as cenas bucólicas do sem-graça casal principal no mar, bem no finzinho. Seria totalmente previsível se não estivéssemos tão acostumados a não ter nada dessa doçura na vida real.
Foi tão bonito... A novela nunca teve números significativos no ibope, mas para quem não viu, garanto que valeu a pena assistir alguns capítulos. Penso que faz muita falta esse romance inocente, cenas doces. Essa poesia cheia de metáforas da Lygia Fagundes Telles, que escreveu a história no qual se baseou a novela. São minúcias, pequenas coisas em algumas cenas em que eu pensava: “Ah, mas essa Lygia...”.
O final foi bem significativo apesar das cenas que os fãs de novela como eu (admito totalmente) já estão tão acostumados a ver. Mas será que estamos mesmo tão acostumados assim? Há quem diga que o amor não é essa coisa idealizada, esse mito, essa coisa doce e perfeita, e que esse mar de novelas românticas faz a gente se frustrar. Na verdade penso que num é bem isso. O que acontece é que estamos acostumados demais a ser brutos. A gente leva um choque e se assusta demais com a perfeição. Ou simplesmente não dá o menor valor porque é uma coisa tão fora de moda... Eu admito que tenho dificuldade em me relacionar com coisas perfeitas. Eu mesma me sinto tão imperfeita para querer esse amor de novela das seis. Sim, porque de novela das nove todo mundo pode ter. Sexo, sexo e sexo. Selvagem, com as paredes, com as vizinhas, com as galinhas, com o vaso de flores da sua casa. Esse é o amor do horário nobre hoje em dia.
Muita gente acha tosco, e eu mesma reconheço que as produções made in México são bem bobinhas. Mas sinceramente, eu prefiro as besteiras mexicanas ou colombianas, com sentimentos exagerados, à flor da pele, amores urgentes, corações pulsantes, à frieza da maioria dos seriados estadunidenses e dos nossos sucessos do horário nobre. Simplesmente porque sinto falta dessa emoção e desse exagero na vida real.
A gente aprende desde criança a ser racional, a não xingar os outros, a não brigar, a se conter sempre. Paulo Coelho tem razão quando diz que as emoções são cavalos selvagens. Isso mesmo caro leitor. Vire sua cara fria e racional para dizer: “Menina ridícula que vê novelas mexicanas e lê Paulo Coelho”. Mas pense bem quando te digo que mesmo nos meus momentos fuga na tosquice, eu, como você, não sei mais o que é amar. Aprendi a domar meus cavalos selvagens e me arrependo disso.
Mas o bom é que tem coisa não dá para controlar. Quando as emoções transbordam, eu me lembro dessa frase do Paulo Coelho que pelos anos nem recordo mais de que livro é (ou talvez seja um clichê da maioria das obras dele). E sinceramente, esses momentos são libertadores. Como quando você percebe que seu romance não é mais o mesmo e resolve chutar o balde. Quando resolve entregar-se a um sonho antigo. Ou quando assiste ao último capítulo da novela das seis aos prantos. É realmente libertador...