quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O bichinho do mau-humor



O bichinho do mau-humor pode entrar no corpo de qualquer pessoa, a qualquer hora. Hoje ele me pegou de jeito o dia todo. Claro que não vou sair descontando nas pessoas à minha volta. Amigos, colegas e familiares geralmente não têm nada a ver com esse mal que pode chegar sem aviso prévio. O cansaço é o melhor alimento para o bichinho do mau-humor. No meu caso, a associação cansaço, fome e sono é o ambiente perfeito para o desenvolvimento de tal ser.
Dormir meia hora depois do almoço no calor infernal dos últimos dias em Goiânia pode piorar tudo. Se vai dormir de dia, o faça quando puder acordar só à noite, quando o clima estiver mais fresco. Ter que levantar da cama e vestir roupa para trabalhar é o fim. Principalmente se for para entrevistar um ser humano apático e que odeia falar. É desesperador.
É como diz Garcia Márquez, "A vida não é a que gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la". De fato, algumas pessoas têm uma história de vida incrível, mas por acharem tudo bobo preferem guardar para si. E fazem a gente sofrer para espremer um pouco de história. Isso me dá descrença sem fim. Existem pessoas de olhos brilhantes e pessoas de olhos opacos. Eliane Brum acerta em cheio quando fala isso, e a cada dia que passa percebo mais essas coisas. Não sei explicar o motivo dessa diferença. Mas a gente bate o olho e saca quando a pessoa tem olhos brilhantes e quando tem olhos opacos de quem mesmo tendo vivido coisas bacanas acha tudo banal.
O bichinho do mau-humor nunca se contenta em apenas habitar um corpo. Em alguns momentos ele rói os nervos das pessoas e provoca reações estranhas. No trânsito, por exemplo. Ele vem e dança sob a pele, se sacode entre as carnes da gente. Principalmente às 18h. Eu queria NUNCA precisar sair da minha casa ou trabalho nesse horário. Dizem que às 3h da manhã os demônios estão soltos. Eu discordo. O horário mais propício para o mal é 18h.
O instinto assassino de qualquer ser humano, mesmo que este pratique meditação transcendental ou seja um líder religioso semeador de paz, fica desperto às 18h no trânsito. A cada dia que passa tenho mais certeza que todas as religiões do mundo estão equivocadas ao descrever o inferno. Nada de caldeirões ferventes ou mármores escaldantes. O inferno é um eterno trânsito às 18h. Não existem chamas que atormentem mais o espírito.
E enquanto isso o bichinho do mau-humor se multiplica e se contorce... Hoje pela primeira vez mandei um cara à pqp no trânsito. Horrível isso. Mas quando se xinga alguém desconhecido a plenos pulmões muitos bichinhos do mau-humor morrem. É quase um vermífugo. Dá até alívio, sensação de leveza.
Mas só uma coisa consegue detonar de vez esses seres do mal. Cheiro de lar. Depois de toda a jornada diária, chegar em casa e respirar fundo sentindo o cheio do lar faz com que se esqueça totalmente do bichinho do mau-humor. Para evitar o retorno de tais seres, nada melhor que arrancar fora a roupa que aprisionou nosso corpo durante todo o dia e tomar um banho gelado. Talvez o estresse tenha sido feito para que possamos valorizar os momentos de calmaria. A roupa, para que aprendamos a valorizar o prazer do vento no corpo nu. O mau-humor, para que aprendamos a combater nossos demônios.

2 comentários:

Fabrizio Giuvannucci disse...

Como você mesmo diz, "Que calor tenebroso!". E parado no trânsito respirando aquele arzinho puro de dióxido de carbono é o inferno mesmo. Mas tenho inveja de você. Eu não consigo matar esses bichinhos do mau-humor... Nem no estádio eu consigo xingar direito, no máximo algumas interjeições mais fortes hehehe vou fazer terapia. Eles me esgotam todos os dias.
Maravilhoso o seu texto! ;)

jadolfo disse...

As vezes o stress se torna tão grande e intenso que é necessário "botar prá fora", ficar guardando a raiva é ruim... o difícil é ter o dicernimento para saber quando, onde e como.