sexta-feira, 8 de março de 2013

A mulher habitada, a mulher habitante Gioconda Belli, mais que genial



"Rompo este huevo y nace la mujer y nace el hombre. Y juntos vivirán y morirán. Pero nacen nuevamente. Nacerán y volverán a morir y otra vez nacerán. Y nunca dejarán de nacer, porque la muerte es mentira."

Memorias del Fuego - Eduardo Galeano

Depois de alguns anos e umas tantas experiências vividas, voltei a ler A mulher habitada de Gioconda Belli. E uma vez mais me emocionei. Literatura orgásmica, deliciosa, forte e delicada. 

Realista sem abrir mão do fantástico, Gioconda nos envolve com a história de Itzá, uma indígena que reencarna numa laranjeira e por meio dos seus frutos, entra em Lavínia, uma jovem burguesa nicaraguense. A construção da personagem Itzá, mulher indígena revolucionária que morre lutando ao lado do seu companheiro, se mescla com a construção da personagem Lavínia, que busca seu lugar no mundo e se constrói com a ajuda de diferentes mulheres que cruzam seu caminho durante a ditadura de Somoza.

A autora constrói a identidade das protagonistas tecendo conflito por conflito, como um tecido fino, fio a fio, e no fim, o individual de Lavínia se agarra a um processo revolucionário para uma construção coletiva. Deliciosamente sedutor e intenso, A mulher Habitada é um encontro entre a prática política revolucionária e numerosas vozes de mulheres latino-americanas. Sandinismo, marxismo e feminismo, em discursos que se completam e, em alguns momentos, se contradizem. 

Dizem que sim existiu um cacique Yarince em Matagalpa que, tendo sua companheira sempre ao seu lado, lutou contra os espanhóis. Triste e feroz história da América Latina. Os tempos mudam, as roupas mudam, o modo de se expressar muda. Mas o pano de fundo é sempre o mesmo. Nas palavras de Itzá “nós duas vivemos a mesma coisa, o mesmo sangue, só o tempo muda”. E nada morre porque tudo volta a nascer - o amor, a fúria, a luta.

Fáguas pode ser, segundo Gioconda Belli, qualquer lugar da América Latina. E todas nós somos Lavínia-Itzá – assim como Pagu, como Domitila, como tantas de nós que morreram lutando. A mulher habitada – pelo nosso contexto, pelo nosso passado, pela história de nossa gente e nossos antepassados. A mulher habitante, militante, política. A mulher violada - fisicamente, psicologicamente. Comparto com vocês um pouco de tão bonita reflexão. Deixo aqui um pedacinho da poesia final do livro, a despedida de Itzá.

La luz está encendida. Nadie podrá apagarla. Nadie apagará el sonido de los tambores batientes.
Veo grandes multitudes avanzando en los caminos abiertos por Yarince y los guerreros, los de hoy, los de entonces.
Nadie poseerá este cuerpo de lagos y volcanes, esta mezcla de razas, esta historia de lanzas; este pueblo amante del maíz, de las fiestas a la luz de la luna; pueblo de cantos y tejidos de todos los colores.
*A imagem desse post é uma obra do muralista nicaraguense Roberto Loaisiga Mendez, "A mulher revolucionária nos anos 80"

Nenhum comentário: