
Dois dias antes, Gregório preparou uma bolsa com folhas de coca. Refresco. E foi visitar seus vizinhos e parentes e pedir ajuda para colher suas batatas. É que Gregório só tem um filho, de oito anos, ainda pequeno para ajudar o pai. Gregório necessitava ajuda. Os vizinhos e parentes aceitaram. Agora, Gregório também deve ajudar-los em suas colheitas. É um compromisso. É ayni.
A omaraka é a colheita transformada em festa. Todos se reúnem. Colocam a conversa em dia. Trabalham duro para tirar da terra as batatas maduras. Vários sabores. Várias espécies*. Durante todo o dia Gregório deve alimentar os seus convidados. São seis refeições. E é por isso que prepara com carinho seu melhor cordeiro.
Enquanto Gregório passa o dia com os outros homens colhendo batatas, as esposas e filhas cozinham. Sopa, cordeiro cozido (que depois será assado por cada um em pequenas fogueiras de esterco). E o mais delicioso: a watya. A watya é a batata cozida com o calor da terra. A parte mais importante do almoço. A mais antiga e simbólica. Só se sabe que vem dos abuelos, os ancestrais. Desde quando? Impossível saber.

Nesse dia, Gregório conseguiu colher todas as suas batatas. E elas eram grandes, saudáveis, sem nenhum bichinho. Para ele, foi um dia feliz. Festa mais linda que toda uma noite de danças.
Eu, jornalista de cidade, caminhei como nunca, o sol forte do altiplano na nuca. Minha falta de preparo físico se fez sentir. Preço pequeno a pagar por tão linda história e por poder ter a oportunidade de compartilhar com Gregório e sua família. Os aymaras e quéchuas são desconfiados, não aceitam qualquer pessoa em momentos tão íntimos. Agradeço por dividir comigo sua história. E pela saborosa watya. A melhor batata que comi na minha vida.