tag:blogger.com,1999:blog-63439057113631289272024-03-06T00:09:49.473-03:00Um sussurro entre os fatosLídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.comBlogger57125tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-78490990689426818332022-03-07T15:08:00.001-03:002022-03-07T15:12:42.826-03:00O cabelo<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><p><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Minha avó era o tipo de pessoa que te educava
com fábulas e histórias com lição no final. Se ela queria ensinar que era grave
pegar o que não é seu, ela contava a história do cara que morreu depois de
roubar uma agulha. Lembro que ela tinha inclusive histórias de bom
comportamento em festas e eventos, tudo com um final bem trágico para as
pessoas que não seguissem as normas sociais. Ela era uma contadora de causos
excelente. Algumas dessas histórias eram muito boas, mas esses dias, nesses momentos
em que tantos feminicídios e injustiças estão saindo a luz, eu estive pensando
em uma especialmente complicada. </span></p></div>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Na história, uma mulher estava com sérios
problemas matrimoniais porque seu marido sempre encontrava um cabelo na comida.
Ela colocava lenço no cabelo, protegia de todo jeito sua longa cabeleira. Mas
pum, aparecia o cabelo. E o cara, revoltado com o descuido, gritava e batia na
mulher. Um dia uma benzedeira revelou a raiz do problema: o culpado era o
capeta. O tinhoso sempre vinha e colocava ali um cabelo na comida para provocar
discórdia. Junto com a constatação veio a solução: o capeta não gosta de alho,
tem que colocar alho na comida e ele vai desaparecer. Moral da história: sempre
coloque alho na comida, assim o alimento sempre estará protegido. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Quem sou eu para duvidar da proteção espiritual
oferecida pelo alho, mas alguém mais pescou o quanto essa história é delicada?
Minha avó foi educada na roça pelo pai e pelos irmãos. Para ela tudo isso era
muito natural... O homem ficava com ódio e gritava e maltratava, mesmo que
fosse por um cabelo na comida. Era uma reação natural. Hoje a gente acha
indignante, mas fica ali no subconsciente uma naturalização de tudo isso. Séculos
de patriarcado não v</span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">ã</span>o cair sozinhos, tampouco em um dia, ou em uma semana.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Muitas vezes a gente vê uma mulher que vive por
anos, algumas vezes a vida inteira com o maltratador. E ela vai aceitando e o
ciclo da violência dando voltas e voltas, e a gente julga: “porra, mulher, tem
que ser mais forte, sai daí”. Mas para a mulher que está nesse ciclo as coisas são
muito mais complicadas. A culpa é do tinhoso ou até dela mesma por não contar
com a proteção de um alho qualquer. A gente foi educada assim, mesmo sem ter sido
diretamente educada assim. Mesmo que sua mãe e sua família te falassem que “não
tem que aguentar isso”, a sociedade colocava outra coisa no seu subconsciente. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">No tempo da minha avó era obediência e
silencio. O subconsciente coletivo leva muito tempo para ser mudado e precisamos
começar de uma vez. É lindo marchar e pedir justiça, é fundamental. Mas é só
uma parte da luta. Precisamos estar juntas e apoiar-nos também enquanto estamos
vivas. Julgando menos, estendendo a mão, estando ali, gerando redes de apoio.
Em lugar de julgar e condenar a outras mulheres precisamos gerar redes de apoio.
Temos que ser a porta para que todas vejam que não é culpa do tinhoso nem do
alho: é culpa desse cara que é capaz de machucar sua esposa, por um cabelo.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Nesse 8 de março desejo pra gente justiça e
sororidade. É o mínimo que todas merecemos.</span></p>
<p><style>@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:1;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-format:other;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:0 0 0 0 0 0;}@font-face
{font-family:Calibri;
panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1073786111 1 0 415 0;}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:Calibri;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-family:Calibri;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}div.WordSection1
{page:WordSection1;}</style></p>Lídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-23824141969136643972021-09-08T00:32:00.002-03:002021-09-08T00:33:26.939-03:00Hugo<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> <span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Já faz uns dias que estou pensando em uma
pessoa que não vejo há uns 20 anos. É muito
louco que em plena pandemia eu comece a pensar em uma pessoa que morreu em
2013. É estranho. A gente se conheceu na escola, entre chicletes de menta, pitchulas,
trabalhos escolares, fantasias e sonhos. Você me levava em casa e esperava
pacientemente ser meu primeiro beijo. Não foi. Mas foi meu primeiro abraço, meu
primeiro carinho, foi desses amores inocentes de adolescência. Sem peso, sem
dor, sem consciência, sem medo. Só carinho mesmo. Goiânia é um ovo, mas eu nunca mais
te vi. Guardei aquela caixinha cheia de te amos escritos com letra feia e
empapada de algum perfume. E sempre tinha alguém que me contava de você. Da sua
filha, da sua moto. E um dia, da sua morte.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">É estranho pensar que quando você morreu
a gente ainda era tão jovem. Você também era filho único. Pensei na caixinha de
te amos, no perfume, na sua mãe. A gente dançando Ana Júlia, inventando uma
música de metáforas, o professor de biologia, filmes e redações. Eu queria ser
jornalista. Queria muito e achava que ia mudar o mundo discutindo e cantando Legião
Urbana. Quase 20 anos que não te vejo e quase 10 que você morreu. Mas é uma
loucura que algumas vezes ainda lembro de você e penso em como seria sua vida
se você estivesse vivo. Sua filha já deve ser adolescente. O professor de biologia continua igual. É estranho pensar
que a vida um dia existe e ao dia seguinte não mais. Mesmo sem pandemia. Cara,
um monte de gente morreu em uma pandemia louca, sabia? Mas você foi embora
antes e nem viu. Quando você morreu, o Facebook tava começando a bombar no
Brasil. Ninguém sabia quem era Bolsonaro, ninguém imaginava que ia rolar essa
pandemia um dia. Você sabia que eu mudei pra Bolívia? Quando te conheci pensava
no Egito, pensava em mil países, mas nunca tinha pensado em viver na Bolívia. A
vida é muito louca, Hugo. E só queria que você soubesse que de vez em quando
penso em você e ainda agradeço sua ternura. E espero que um dia nos encontremos
para rir como loucos outra vez das insanidades da vida.</span></p>
<p><style>@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:1;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-format:other;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:0 0 0 0 0 0;}@font-face
{font-family:Calibri;
panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1073786111 1 0 415 0;}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:Calibri;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-family:Calibri;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}div.WordSection1
{page:WordSection1;}</style></p>Lídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-50873328693072511582021-08-02T22:57:00.001-03:002021-08-02T22:57:53.330-03:00Agosto<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Para os povos andinos, agosto é o mês em que começa
a colheita. É também o mês em que se alimenta a mãe-terra, que tem fome e abre
a boca para receber as oferendas. Aqui não existe o diabo. A sua oferenda tem a
cor da sua intenção. Mas que fique claro: se você usa essa energia para
machucar, ofender ou prejudicar, cedo ou tarde a terra cobra. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Gosto muito desse mês e de toda a carga simbólica
que ele traz. Uma coisa de agradecer, celebrar e ao mesmo tempo de preparar a
terra para um novo ciclo. Por isso escolhi reativar o Sussurro nessa data. Sei
que faz tempo, mas tenho saudade demais desse cantinho onde posso transbordar
amor e ideias. Venho ensaiando esse momento há tempos e talvez a reflexão da
lua minguante junto com a explosão criativa de agosto me ajudaram a voltar de
uma vez. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Escrever é vida, é medicina. Voltar aqui é
parte da minha colheita e ao mesmo tempo de uma bonita preparação para um novo
ciclo. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Jallalla Pachamama. E que seja doce.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjE_zqHgLni-sOfrUzBvjEQ-JenvmgyQs3vQ8JrgJIPyTx6gXfecfHBEYJbrAcHXqMbV36c_f0OD9_fshMfY3epvhlaWSewZYPv0HG_n2mbZa1-4yZF0MZZQzuQTHgETrmuoAAvGKoft6U/s1280/coca.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="281" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjE_zqHgLni-sOfrUzBvjEQ-JenvmgyQs3vQ8JrgJIPyTx6gXfecfHBEYJbrAcHXqMbV36c_f0OD9_fshMfY3epvhlaWSewZYPv0HG_n2mbZa1-4yZF0MZZQzuQTHgETrmuoAAvGKoft6U/w501-h281/coca.jpeg" width="501" /></a></div><br /> <p></p>
<p><style>@font-face
{font-family:"Cambria Math";
panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4;
mso-font-charset:1;
mso-generic-font-family:roman;
mso-font-format:other;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:0 0 0 0 0 0;}@font-face
{font-family:Calibri;
panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4;
mso-font-charset:0;
mso-generic-font-family:auto;
mso-font-pitch:variable;
mso-font-signature:-536870145 1073786111 1 0 415 0;}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
{mso-style-unhide:no;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
margin:0cm;
margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
font-family:Calibri;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}.MsoChpDefault
{mso-style-type:export-only;
mso-default-props:yes;
font-family:Calibri;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}div.WordSection1
{page:WordSection1;}</style></p>Lídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-12622231136283344832013-08-27T14:01:00.004-03:002013-08-30T14:51:27.466-03:00Ninguém<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span lang="PT-BR" style="color: #0d0d0d;">Todos os dias ela se sentava
na saída de água </span><span style="color: #0d0d0d;">à</span><span lang="PT-BR" style="color: #0d0d0d;"> esquerda da rodovia. Uma
placa de cimento a um lado, uma construção feita por algum prefeito em algum
momento para evitar desastres. Ela era o desastre que não pode ser evitado.</span><span style="color: #0d0d0d;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span lang="PT-BR" style="color: #0d0d0d;">Todos os dias pelo menos 300
mil pessoas passavam por ela no caminho ao trabalho. Ninguém sabia quem era
ela. Ela era invisível. Sentada no sol, agarrando um trapinho de lã. Ela era o
que ninguém quer ver, o que ninguém quer ser, o que todos temem. Ninguém nunca
via seus olhos, porque ela não levantava a cabeça há anos. Ela tinha medo,
tinha frio. Por isso todos os dias das 10h até as 16h, ela ficava ali
sentadinha. Ela não esperava nada da vida. Só um pão e o álcool da noite, que
ela bebia para evitar sentir a fome lacerante e o frio doloroso.</span><span style="color: #0d0d0d;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span lang="PT-BR" style="color: #0d0d0d;">Um dia, ela apareceu com um
cachorro sarnento. O animal sangrante se sentava ao seu lado. E os dois ficavam
ali, sentados<span class="apple-converted-space"> </span></span><span style="color: #0d0d0d;">à</span><span class="apple-converted-space"><span lang="PT-BR" style="color: #0d0d0d;"> </span></span><span lang="PT-BR" style="color: #0d0d0d;">margem da rodovia, cada um
sangrando a sua maneira.<span class="apple-converted-space"> </span></span><span style="color: #0d0d0d;">À</span><span class="apple-converted-space"><span style="color: #0d0d0d;"> </span></span><span lang="PT-BR" style="color: #0d0d0d;">margem da dinâmica louca da cidade.<span class="apple-converted-space"> </span></span><span style="color: #0d0d0d;">À </span><span lang="PT-BR" style="color: #0d0d0d;">margem das ambições, dos
sonhos e desejos.<span class="apple-converted-space"> </span></span><span style="color: #0d0d0d;">À</span><span class="apple-converted-space"><span lang="PT-BR" style="color: #0d0d0d;"> </span></span><span lang="PT-BR" style="color: #0d0d0d;">margem da vida.</span><span style="color: #0d0d0d;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span lang="PT-BR" style="color: #0d0d0d;">Quando o magro cão foi
atropelado por um carro de entregas, a senhora pela primeira vez em anos
levantou a cabeça. O motorista foi o detentor do segredo: ele viu os olhos que
ninguém pode ver em anos. Congelado pelo choque, caiu no abismo.</span><span style="color: #0d0d0d;"><o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><u1:p></u1:p>
<u1:p></u1:p>
<u1:p></u1:p>
<u1:p></u1:p>
</span><br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: start;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span lang="PT-BR" style="color: #0d0d0d;">Na manhã do dia seguinte a
polícia encontrou um corpo do sexo feminino congelado em um dos escapes de
esgoto da cidade. Ninguém buscou</span><span style="color: #0d0d0d;"> o corpo, ninguém fez enterro, ninguém chorou por ela.
Ninguém.</span></span><span lang="PT-BR" style="color: #0d0d0d; font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR; mso-themecolor: text1; mso-themetint: 242;"><o:p></o:p></span></div>
</div>
</div>
</div>
Lídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-52682417830764821692013-03-08T22:27:00.000-03:002013-03-08T22:34:44.211-03:00A mulher habitada, a mulher habitante Gioconda Belli, mais que genial<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves/>
<w:TrackFormatting/>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:DoNotPromoteQF/>
<w:LidThemeOther>ES-BO</w:LidThemeOther>
<w:LidThemeAsian>X-NONE</w:LidThemeAsian>
<w:LidThemeComplexScript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:SplitPgBreakAndParaMark/>
<w:DontVertAlignCellWithSp/>
<w:DontBreakConstrainedForcedTables/>
<w:DontVertAlignInTxbx/>
<w:Word11KerningPairs/>
<w:CachedColBalance/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
<m:mathPr>
<m:mathFont m:val="Cambria Math"/>
<m:brkBin m:val="before"/>
<m:brkBinSub m:val="--"/>
<m:smallFrac m:val="off"/>
<m:dispDef/>
<m:lMargin m:val="0"/>
<m:rMargin m:val="0"/>
<m:defJc m:val="centerGroup"/>
<m:wrapIndent m:val="1440"/>
<m:intLim m:val="subSup"/>
<m:naryLim m:val="undOvr"/>
</m:mathPr></w:WordDocument>
</xml><![endif]--><br />
<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" DefUnhideWhenUsed="true"
DefSemiHidden="true" DefQFormat="false" DefPriority="99"
LatentStyleCount="267">
<w:LsdException Locked="false" Priority="0" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Normal"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="heading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="35" QFormat="true" Name="caption"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="10" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" Name="Default Paragraph Font"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="11" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtitle"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="22" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Strong"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="20" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="0" Name="Plain Text"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="59" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Table Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Placeholder Text"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="No Spacing"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Revision"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="34" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="List Paragraph"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="29" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="30" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="19" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="21" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="31" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="32" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="33" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Book Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="37" Name="Bibliography"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" QFormat="true" Name="TOC Heading"/>
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabla normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-priority:99;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin-top:0cm;
mso-para-margin-right:0cm;
mso-para-margin-bottom:10.0pt;
mso-para-margin-left:0cm;
line-height:115%;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:11.0pt;
font-family:"Calibri","sans-serif";
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"Times New Roman";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;}
</style>
<![endif]-->
<br />
<div class="MsoPlainText" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi43SPFOeM48viB35dklwD77OCBBepNWdJINUo4DZyksP2WKWyVjFnVL-q1adaVjPd0Gkdqs78TkDhZUIABE0pIZmoMmEh3mEJN-DsVFfPn52cg-47LwS52XO9jDOs-ZU6X_ZRl2ZjI1YU/s1600/Mujer.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi43SPFOeM48viB35dklwD77OCBBepNWdJINUo4DZyksP2WKWyVjFnVL-q1adaVjPd0Gkdqs78TkDhZUIABE0pIZmoMmEh3mEJN-DsVFfPn52cg-47LwS52XO9jDOs-ZU6X_ZRl2ZjI1YU/s320/Mujer.JPG" width="240" /></a><i><b><span lang="ES-TRAD" style="color: black; font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt;">"Rompo este huevo y nace la mujer y nace el hombre. Y juntos
vivirán y morirán. Pero nacen nuevamente. Nacerán y volverán a morir y otra vez
nacerán. Y nunca dejarán de nacer, porque la muerte es mentira."</span></b></i></div>
<i><b>
</b></i><br />
<div align="right" class="MsoPlainText" style="text-align: right; text-indent: 14.2pt;">
<i><b><span lang="ES-TRAD" style="color: black; font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt;">Memorias del Fuego</span><span lang="ES-TRAD" style="color: black; font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> - </span><span lang="ES-TRAD" style="color: black; font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt;">Eduardo Galeano</span></b></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Depois de alguns anos e umas tantas experiências
vividas, voltei a ler <i>A mulher habitada</i> de Gioconda Belli. E uma vez mais me
emocionei. Literatura orgásmica, deliciosa, forte e delicada. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Realista sem abrir mão do fantástico, Gioconda
nos envolve com a história de Itzá, uma indígena que reencarna numa laranjeira
e por meio dos seus frutos, entra em Lavínia, uma jovem burguesa nicaraguense.
A construção da personagem Itzá, mulher indígena revolucionária que morre
lutando ao lado do seu companheiro, se mescla com a construção da personagem Lavínia,
que busca seu lugar no mundo e se constrói com a ajuda de diferentes mulheres
que cruzam seu caminho durante a ditadura de Somoza.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">A autora constrói a identidade das protagonistas
tecendo conflito por conflito, como um tecido fino, fio a fio, e no fim, o
individual de Lavínia se agarra a um processo revolucionário para uma construção
coletiva. Deliciosamente sedutor e intenso, <i>A mulher Habitada</i> é um encontro
entre a prática política revolucionária e numerosas vozes de mulheres
latino-americanas. Sandinismo, marxismo e feminismo, em discursos que se
completam e, em alguns momentos, se contradizem. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Dizem que sim existiu um cacique Yarince em
Matagalpa que, tendo sua companheira sempre ao seu lado, lutou contra os espanhóis.
Triste e feroz história da América Latina. Os tempos mudam, as roupas mudam, o
modo de se expressar muda. Mas o pano de fundo é sempre o mesmo. Nas palavras
de Itzá “nós duas vivemos a mesma coisa, o mesmo sangue, só o tempo muda”. E
nada morre porque tudo volta a nascer - o amor, a fúria, a luta.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Fáguas pode ser, segundo Gioconda Belli,
qualquer lugar da América Latina. E todas nós somos Lavínia-Itzá – assim como Pagu,
como Domitila, como tantas de nós que morreram lutando. A mulher habitada – pelo
nosso contexto, pelo nosso passado, pela história de nossa gente e nossos
antepassados. A mulher habitante, militante, política. A mulher violada - fisicamente, psicologicamente. Comparto com vocês um
pouco de tão bonita reflexão. Deixo aqui um pedacinho da poesia final do livro,
a despedida de Itzá.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoPlainText" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<i><b><span lang="ES-TRAD" style="color: black; font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">“</span><span lang="ES-TRAD" style="color: black; font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt;">La luz está encendida. Nadie podrá apagarla. Nadie apagará el
sonido de los tambores batientes.</span></b></i><br />
<i><b><span lang="ES-TRAD" style="color: black; font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt;">Veo grandes multitudes avanzando en los caminos abiertos por
Yarince y los guerreros, los de hoy, los de entonces.</span></b></i><br />
<i><b><span lang="ES-TRAD" style="color: black; font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt;">Nadie poseerá este cuerpo de lagos y volcanes, esta mezcla de
razas, esta historia de lanzas; este pueblo amante del maíz, de las fiestas a
la luz de la luna; pueblo de cantos y tejidos de todos los colores.</span><span lang="ES-TRAD" style="color: black; font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">”</span></b></i><br />
</div>
<div class="MsoPlainText" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<i><span lang="ES-TRAD" style="color: black; font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">*A imagem desse post é uma obra do muralista nicaraguense </span></i><i><span lang="ES-TRAD" style="color: black; font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Roberto Loaisiga Mendez, "A mulher revolucionária nos anos 80"</span><b><span lang="ES-TRAD" style="color: black; font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> </span></b></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Lídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-60874783571256810262013-02-08T23:08:00.004-02:002013-02-08T23:36:49.736-02:00Vida no Eixo<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves/>
<w:TrackFormatting/>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:DoNotPromoteQF/>
<w:LidThemeOther>ES-BO</w:LidThemeOther>
<w:LidThemeAsian>X-NONE</w:LidThemeAsian>
<w:LidThemeComplexScript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:SplitPgBreakAndParaMark/>
<w:DontVertAlignCellWithSp/>
<w:DontBreakConstrainedForcedTables/>
<w:DontVertAlignInTxbx/>
<w:Word11KerningPairs/>
<w:CachedColBalance/>
</w:Compatibility>
<w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel>
<m:mathPr>
<m:mathFont m:val="Cambria Math"/>
<m:brkBin m:val="before"/>
<m:brkBinSub m:val="--"/>
<m:smallFrac m:val="off"/>
<m:dispDef/>
<m:lMargin m:val="0"/>
<m:rMargin m:val="0"/>
<m:defJc m:val="centerGroup"/>
<m:wrapIndent m:val="1440"/>
<m:intLim m:val="subSup"/>
<m:naryLim m:val="undOvr"/>
</m:mathPr></w:WordDocument>
</xml><![endif]--><div style="text-align: justify;">
<b><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">Essa reportagem foi escrita em 2008, como
trabalho para minha especialização em jornalismo literário. Fico tanto tempo
sem postar aqui e depois venho com coisa velha, né gente. Mas a coisa é que
esse material nunca foi publicado. Foi lido por no máximo quatro pessoas
especiais para mim. Nesse momento eu queria compartilhar uma coisa especial com
vocês. E decidi publicar isso, praticamente intacto, inédito, tão pessoal e tão
meu.</span></b><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif";"> </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">Eu não sei como estará o Elber (personagem dessa
história). Como estou na Bolívia há quase três anos tampouco sei como será
andar no Eixo Anhanguera nesse momento ou quanto custará. Mas isso não é tão
importante. O mais importante é a vontade de viver que o Elber tinha nesse momento,
a história que é universal e que acontece com tantos meninos do Brasil e de
outros países - nem todas com finais felizes. </span></b><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">Mas chega de
blá blá blá. Espero que vocês gostem. Boa leitura.</span></b><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">Barulho,
confusão, correria. Todos os dias milhares de pessoas vão até um dos pontos do
Eixo Anhanguera, em Goiânia, para pegar o grande e sempre lotado ônibus que
atravessa a cidade. Do terminal do Novo Mundo ao terminal do Padre Pelágio são
aproximadamente 14 quilômetros. É um meio de transporte barato, embora tenha
mais que dobrado de preço no último ano. Com R$ 1, qualquer pessoa pode ir de
uma ponta à outra da cidade. Não, não é um passeio turístico. Para quem não
está acostumado, o cenário pode ser assustador. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">Não que seja
perigoso ou ofereça risco de vida. Ta, há sim um risco. Mochila nas costas é
pedir para ser assaltado, por exemplo. Mas o Eixo<b>,</b> na verdade, assusta
bem mais do que oferece perigo. Já presenciei briga de faca, ameaça de morte e
discussão entre mulheres traídas (que incluiu o famoso puxa-puxa nos cabelos),
mas tudo é apenas confusão. Isso dentro de um ônibus totalmente lotado, um
lugar onde um simples movimento com o pé é difícil. A cada plataforma pessoas
são cuspidas do veículo, enquanto outras se esforçam para entrar nele.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">No meio disso
tudo<b>,</b> um número sem fim de vendedores ambulantes tenta ganhar seu
sustento. Alguns apenas oferecem seus produtos, outros cantam (sim, no meio da
multidão há os “artistas do Eixo”), e outros ainda só percorrem os carros mostrando
o que têm a oferecer. Elber Rodrigues não é como a maioria. Mesmo quem jamais
cogitou a possibilidade de comprar tampinhas para o tanque no caminho do
trabalho, muitas vezes muda de ideia.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">- Eu tenho
aqui uma coisa que vai fazer todo mundo enlouquecer. Um produto como nunca se
viu igual. A tampa que vai fazer seu tanque ser mais eficiente e feliz. Quem
vai querer? Quem quiser levante o braço, por favor. Calma gente, não precisa
levantar o braço todo mundo ao mesmo tempo. Opa! Cuidado com o tumulto! Tem
tampinha pra todo mundo!</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">O moço tem
sorriso branco e alegria cativante, parece que nasceu para o ofício de
comunicar. Ganha seu dinheiro e, ao mesmo tempo, alegra. Gente que acorda todos
os dias às quatro da manhã para garantir o salário mínimo se esquece dos
problemas e das bocas cheias de fome dos filhos para sorrir com as brincadeiras
do rapaz. As garotas se assanham:</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">- Olha ali que
moço bonito vendendo tampinhas...</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">Mas não
adianta que o coração dele já tem dona. O nome ele não revela, mas foto que
tirou da escolhida no celular ele mostra. A eleita é uma garota que tem os
mesmos ideais e crenças. Elber é de uma igreja neopentecostal, Comunidade
Shalom. Namoro lá não existe. Mas amor, ah esse não tem como controlar.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">- Como você
faz?</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">- A gente ora
para saber se é vontade de Deus. Se tudo der certo, não tem agarração nem falta
de respeito. Beijo só depois do casamento. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">Hoje ele é
assim. Deus está em todos os seus planos e acima de todas as coisas. Elber quer
ser pregador. Mas nem sempre as coisas foram desse jeito. Muito aconteceu que
fez por várias vezes com que os caminhos se modificassem. Em algumas se
tornaram totalmente confusos. Em outras pareciam beco sem saída. O vendedor de
tampinhas de voz clara e sorriso franco foi usuário de drogas por cinco anos.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">*********</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">Ele adorou a
ideia de virar história. Não vamos dizer que foi apenas pelo altruísmo de se
tornar um exemplo de vitória. Aos 21 anos, impossível não ter aquela pontinha
de vaidade. Não foi fácil encontrar Elber. Além das vendas no eixo, ele tem
compromisso com a Igreja, meio distante do local onde mora. Ele é operador de
som. Quartas, sábados e domingos quem comanda o áudio nos cultos é ele. Já
trabalhou como operador de som em festas de todos os tipos, e tal experiência
tem sido importante nessa nova fase da vida.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">Elber ainda
mora na casa de recuperação onde há um ano e cinco meses chegou para se
recuperar das drogas. A casa é afastada da cidade, num conjunto de chácaras
longe de tudo. O caminho não é fácil para quem se aventura pela primeira vez e,
sinceramente, eu não me arrisco a tentar passar por ele à noite. Não que seja
perigoso. Mas sem nenhum tipo de iluminação, a estrada de terra é quase um
convite para se perder. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">Elber foi à
frente, de bicicleta, guiando meu carro. Ele corria e, no meio da estrada,
fazia manobras geniais com seu meio de transporte. Uma empolgação só, quase um
show particular. De vez em quando olhava para trás, mas parecia não se importar
com a dificuldade que meu pobre carro enfrentava para chegar até ele. Entre
casas enormes, algumas cheias de luxo, estava a simples morada do vendedor de
tampinhas.</span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif";"> </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">O complexo é
formado por um prédio principal, onde estão os quartos e o refeitório, uma
oficina de marcenaria onde são fabricados os materiais que serão vendidos pelos
internos e o resto é improviso de diversão: um campo de futebol na terra e, ao
lado, uma área para ginástica. A “sala de ginástica” foi construída pelos
próprios rapazes. Nela, alguns pesos foram feitos artesanalmente com tijolos e
concreto. No campo, uma turma jogava bola animadamente. </span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif";"> </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">Enquanto eu
conversava com Elber, embaixo das diversas árvores da entrada, a vida na casa
seguia seu ritmo normal. Na cozinha, os escalados para fazer <span style="color: black;">o jantar</span><b><span style="color: teal;"> </span></b>já
trabalhavam às 17h. Fogão a gás ali, nem pensar. A comida é feita em fogão à
lenha. Fogão construído pelos rapazes, lenha trazida e cortada por eles; mão de
cozinheiro, também deles. De avental, trabalhavam concentrados, um ajudando o
outro, mas tudo sob a coordenação de apenas um cozinheiro principal, que muda
sempre de acordo com a escala.</span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif";">
</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">O banheiro é
comum: um apenas para todos, o que não é necessariamente um problema já que só
há homens na casa. Alguns quartos não possuem portas. Lençóis floridos faziam o
papel de guardiões da entrada. No quarto de Elber, dois beliches e uma cama.
Cinco pessoas apertadas num quarto pequeno, onde duas já viveriam normalmente
em pé de guerra pela disputa de espaço. Bagunça e muita desordem, coisa que o
rapaz se apressa em explicar:</span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif";">
</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">- Lugar onde
só mora homem, já viu.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">A pequena
construção de quartos apertados não possui forração. Entre 30 e 45 homens,
segundo Elber, vivem ali. Número exato não se sabe. Todos os dias homens e
meninos entram e saem da casa. Alguns dispostos a cortar de vez as drogas de
suas vidas. Outros nem tanto. Mas apesar da vida quase que de improviso, todos
parecem felizes. Do passado, um rosto marcado de quem já conheceu a face mais
impiedosa da vida. Olhares algumas vezes perdidos no horizonte, outros
concentrados em trabalhar para não pensar nas tragédias vivenciadas. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">Elber é assim.
Durante a conversa, os olhos doces e inquietos de menino recém saído da
adolescência se tornavam duros, sérios. Em outros momentos, começavam a
lacrimejar, quando o menino então desviava o olhar para algum detalhe da casa.
O sorriso maroto, ao lembrar do sofrimento da mãe, ficava sem cor.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">Ele conta a
própria história como quem lembra de alguma narrativa distante, um conto de
terror cujos capítulos não são fáceis de serem lembrados. Elber Rodrigues,
corpo franzino, espírito cheio de sonhos. Quem vê o vendedor alegre no ônibus,
ri com suas piadas, esquece das próprias desgraças por alguns instantes, sem
saber que também a vida dele já foi desgraça – e graça.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">Muitas vezes,
nos ônibus, ele não cita o nome da casa de recuperação. Quando se fala nesse
tipo de instituição no Eixo<b>,</b> as pessoas ficam desconfiadas. O local já
foi palco de casas que alugavam o nome para jovens trabalharem e muitos agiam
de má fé. Não é o caso de Elber, mas pelo histórico desse tipo de trabalho
muitas pessoas olham de um jeito diferente. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">- O que
atrapalha mais as vendas?</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">- Muita gente
pensa “ah, essa pessoa já usou droga, fumou maconha, já roubou, fez tudo isso”.
E não acreditam na recuperação, não acreditam que Deus pode mudar, pode recuperar
as pessoas. Só olham o passado e não veem que pode ter mudança e transformação.
</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">- É difícil
ter uma segunda chance?</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">- A maioria
das pessoas não acredita em regeneração.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">*****************</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">O trabalho
desenvolvido no Eixo, além de ajudar a casa, funciona como terapia. Cada um tem
um trabalho, de modo que ninguém fica à toa. Há a fabricação de tampinhas, a
venda delas, a confecção de rodos na marcenaria e a venda deles de porta em
porta. Assim que chegou, Elber foi para a oficina e por esse motivo nunca ficou
responsável nem pelos banheiros nem pela cozinha na escala. Quando ele chegou,
só funcionava o trabalho com os rodos. Elber fabricava em algumas horas do dia.
Depois, cabelo arrumado e fala ensaiada ia de porta em porta:</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">- Muito bom
dia minha senhora. Sou da Casa de Recuperação Shalom e estou vendendo esses
rodos para auxiliar nas despesas da nossa casa de recuperação...</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">E blá, blá,
blá. Lá ia o menino argumentar e contra-argumentar em todas as casas, até que a
meta do dia fosse cumprida. Um dia, um obreiro da casa teve a ideia da tampinha
para o tanque, e daí nasceu a função de Elber. Além da venda dentro do ônibus,
há também um grupo que vende nos sinaleiros. O escolhido para falar no meio da
multidão, tarefa que exige especial habilidade de comunicação, foi Elber. Não é
fácil conseguir chamar a atenção das pessoas quando elas estão tensas e
concentradas em não serem esmagadas pelo companheiro de viagem.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">O começo para
ele não foi fácil. Que ele tem menos vergonha que os outros garotos, é fato indiscutível.
Mas nos primeiros dias as primeiras palavras saíam como agulhas espetando a
pele. Nada que Elber não conseguisse superar. Era olhar para cima e mandar ver
a ladainha que logo foi tomando outras formas, criando vida, até ficar quase
que independente de seu criador e puxar a atenção de quem quer que estivesse
dentro do carro gigantesco. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">O lado bom do
trabalho, para ele, é exatamente tudo aquilo que mais agrada as pessoas
curiosas: conhecer. Elber faz novas amizades, descobre coisas diferentes e informações
que até então nem cogitava descobrir. As drogas o atrapalharam de ver o que aos
poucos descobre no Eixo. A vida pulsando de verdade e sem interferência
artificial.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">Quando vivia
em sua cidade Natal, por várias vezes foi convidado a ir para a casa de
recuperação onde estava o irmão, mas não queria nenhum tipo de mudança. Gostava
da vida que tinha. Em certo momento se viu numa situação complicada, que fez
com que visse que necessitava de ajuda. Que coisa foi essa que o fez querer
mudar de vida, não fala. Desvia o assunto, comenta outras coisas, explica a
dificuldade em se recuperar. Mas faz questão de não mencionar o momento exato
em que decidiu ir para a casa e o fator que desencadeou tal vontade. Pelo que
conta, quando chegou à casa ainda não queria largar as drogas. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">- Como foi no
começo?</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">- A gente
chega aqui não querendo uma mudança de caráter. Chega com tudo meio atribulado.
Mas aí você vai percebendo que a vida que você levava num era vida. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">Elber nunca
tinha vindo a Goiânia antes do tratamento, e por ele já não estaria mais aqui.
Sente saudades de Jataí, da família, de sua casa, suas coisas. Mas considera
que a casa que o ajudou precisa agora de ajuda, e vai ficando para com o
trabalho colaborar com algo. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">Sempre viveu
com a mãe e os três irmãos maternos. Por parte de pai tem mais três irmãos, com
quem não tem o mínimo contato. O pai, só conheceu depois de grande, aos 16
anos. Como sempre foi simpático e divertido, Elber atraía muitos amigos que
buscavam, nele, exemplo. O primeiro cigarro de maconha foi oferecido entre
brincadeiras, assim como os outros entorpecentes que usou, entre eles crack e
cocaína. A culpa de ter ingressado no vício, ele atribui a si mesmo e à própria
curiosidade. Mas acredita que as companhias também influenciaram. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">-
Má-influência, comecei a enturmar com pessoas erradas. Fui me envolvendo,
quando eu vi já estava numa situação bem difícil.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">Elber descreve
com destreza todos os caminhos que percorreu até buscar ajuda em Goiânia. Ele
coloca as drogas numa escala cronológica com fim trágico: Acaba com a vida
moral, depois com o caráter e, por fim, mata. Os motivos que levam ao pior são
vários. Porque deve-se um traficante, ou porque já tem-se problema com a
polícia. Rouba aqui, rouba ali. Traficante não quer saber, só quer receber. Ele
vendeu a droga. Não quer saber se você usou, se tem ou não dinheiro para pagar.
Ele quer receber. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">- E como é a
vida nas drogas?</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">- Quando você
usa a droga, você tem amigos, tem tudo. Mas quando você não tem, fica você e a
depressão. Eu ia afundando. Quanto mais eu tentava sair, mais aquela situação
me oprimia, me fechava. Quando a minha própria mãe não tinha mais esperança de
me ver mudar, aí que eu fui ver a situação que eu tinha chegado. Onde eu tinha
entrado. Eu já estava vivendo igual um mendigo. Quem usa droga não toma banho.
São vários dias sem tomar banho, enfurnado no meio do mato, em lugares que não
têm uma cama pra dormir, nada. Eu já fui preso uma vez, por causa de roubo. Mas
Deus sempre me livrou, porque não levei um tiro, não aconteceu coisa pior. Hoje
eu sinto prazer de viver, vivia para a droga, hoje vivo para mim mesmo. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">A palavra para
Elber é esperança. Fé em dias melhores e em um futuro novo em folha. Recomeçar.
Quem o vê falando ou lê as coisas que articula, não imagina que o rapaz cursou
apenas até a quinta série primária. As drogas o fizeram abandonar os estudos. O
conhecimento de teorias e histórias oficiais é pouco, mas o que aprendeu da
vida é mais do que muito doutor nem imagina. O que sabe é que mesmo não tendo
noção de quem foi Nietzche ou Montesquieu, se quer mudança de vida precisa
seguir em frente e aprimorar o dom de comunicar que possui. Colegas,
companheiros de infância, ainda vivem o terror que o rapaz deixou no passado. E
ele não pretende desistir de mostrar a essas pessoas a direção do novo caminho
que descobriu.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">- Não é porque não tenho estudo que eu não devo saber
falar com as pessoas. O pouco que eu sei tento passar, que é não querer viver o
que eu vivi.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">Respira fundo, fecha os olhos, sorri.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR;">- Vai querer jantar com a gente?</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<br />
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" DefUnhideWhenUsed="true"
DefSemiHidden="true" DefQFormat="false" DefPriority="99"
LatentStyleCount="267">
<w:LsdException Locked="false" Priority="0" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Normal"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="heading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="35" QFormat="true" Name="caption"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="10" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" Name="Default Paragraph Font"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="11" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtitle"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="22" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Strong"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="20" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="59" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Table Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Placeholder Text"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="No Spacing"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Revision"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="34" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="List Paragraph"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="29" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="30" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="19" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="21" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="31" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="32" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="33" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Book Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="37" Name="Bibliography"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" QFormat="true" Name="TOC Heading"/>
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabla normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-priority:99;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin-top:0cm;
mso-para-margin-right:0cm;
mso-para-margin-bottom:10.0pt;
mso-para-margin-left:0cm;
line-height:115%;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:11.0pt;
font-family:"Calibri","sans-serif";
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"Times New Roman";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;}
</style>
<![endif]--><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"></span>Lídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-84427438683872704382012-09-07T00:11:00.000-03:002012-09-07T00:11:27.263-03:00Borboletas e furacões<!--[if gte mso 9]><xml>
<o:OfficeDocumentSettings>
<o:RelyOnVML/>
<o:AllowPNG/>
</o:OfficeDocumentSettings>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves/>
<w:TrackFormatting/>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:DoNotPromoteQF/>
<w:LidThemeOther>ES-BO</w:LidThemeOther>
<w:LidThemeAsian>X-NONE</w:LidThemeAsian>
<w:LidThemeComplexScript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:SplitPgBreakAndParaMark/>
<w:DontVertAlignCellWithSp/>
<w:DontBreakConstrainedForcedTables/>
<w:DontVertAlignInTxbx/>
<w:Word11KerningPairs/>
<w:CachedColBalance/>
</w:Compatibility>
<m:mathPr>
<m:mathFont m:val="Cambria Math"/>
<m:brkBin m:val="before"/>
<m:brkBinSub m:val="--"/>
<m:smallFrac m:val="off"/>
<m:dispDef/>
<m:lMargin m:val="0"/>
<m:rMargin m:val="0"/>
<m:defJc m:val="centerGroup"/>
<m:wrapIndent m:val="1440"/>
<m:intLim m:val="subSup"/>
<m:naryLim m:val="undOvr"/>
</m:mathPr></w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" DefUnhideWhenUsed="true"
DefSemiHidden="true" DefQFormat="false" DefPriority="99"
LatentStyleCount="267">
<w:LsdException Locked="false" Priority="0" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Normal"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="heading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="35" QFormat="true" Name="caption"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="10" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" Name="Default Paragraph Font"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="11" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtitle"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="22" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Strong"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="20" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="59" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Table Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Placeholder Text"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="No Spacing"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Revision"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="34" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="List Paragraph"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="29" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="30" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="19" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="21" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="31" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="32" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="33" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Book Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="37" Name="Bibliography"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" QFormat="true" Name="TOC Heading"/>
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabla normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-priority:99;
mso-style-qformat:yes;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin-top:0cm;
mso-para-margin-right:0cm;
mso-para-margin-bottom:10.0pt;
mso-para-margin-left:0cm;
line-height:115%;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:11.0pt;
font-family:"Calibri","sans-serif";
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-font-family:"Times New Roman";
mso-fareast-theme-font:minor-fareast;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;}
</style>
<![endif]-->
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Um dia de desastre, um
dia de beleza. Os livros embaixo do braço, a crença de que todavia se pode
fazer alguma coisa pelo mundo, por esse seu mundinho medíocre, sua bolha delineada
com a imaginação débil. Do alto dessa suposta sabedoria</span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> ele acha que conhece pontos fracos dela, pensa
que conseguiu decifrar sua debilidade. E ignora tanta
fortaleza. "Não tem problema", ela pensa. "É uma carta na manga". Ela escuta essa musica.
Essa musica que </span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">ele</span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;"> nunca dedicou, mas que escutaram juntos. E parece tão
bonito. E ela decide: é nossa. </span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Borboletas e furacões. </span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">E ele nunca soube.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Ele nunca sabe tanta coisa. Tanta coisa desse
mundo particular, tão privado, tão fechado, tão solitário. Tão tristemente
solitário, ainda que acompanhado.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É a
solidão mais triste, dizem. A solidão acompanhado. Esse monte de gente, essas
bocas que riem devorando almas, olhos sedentos de algo, ouvidos fechados para o
outro. Esse monte de gente que não enche vazio. Depois de tudo, ela olha a cama
desfeita. O corpo imóvel, traste de carne do sexo masculino, ainda jaze ali,
fazendo volume. Ela fecha os olhos. Sente o ar abafado do apartamentinho. Agarra os
sapatos. E de pés descalços sente o chão frio e as migalhinhas no piso
descuidado. Abre a porta. E com uma sede desesperada, a cidade a devora. </span><span lang="PT-BR" style="mso-ansi-language: PT-BR;">Borboletas e furacões.</span></div>
Lídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-73868139122141830512012-07-26T20:38:00.001-03:002012-07-26T21:01:24.215-03:00A louca<span lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: BookmanOldStyle;"><span style="font-family: Calibri;"><em>“Aos vinte e
oito anos ela enlouqueceu completamente<o:p></o:p></em></span></span><em>
<span lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: BookmanOldStyle;"><span style="font-family: Calibri;">e de súbito
abriu a janela do quarto e se pôs a dançar nua sobre o </span></span></em><em><span lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: BookmanOldStyle;"><span style="font-family: Calibri;">telhado...”<o:p></o:p></span></span></em><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: BookmanOldStyle;"><span style="font-family: Calibri;">...os pés sentindo a textura das telhas de barro, o vento frio provocando um
arrepio gostoso na alma. E gritava forte. Não necessitava palavras. O simples
som que saía era libertador. Abriu os braços. As gotas penetrando a roupa,
tocando a pele, acariciando cada poro. </span></span><br />
<span lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: BookmanOldStyle;"><span style="font-family: Calibri;">Livre. Quem
necessita mais? Louca, desgrenhada e viva. Livre.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: BookmanOldStyle;"><span style="font-family: Calibri;"><em>Inspirado no conto Aconteceu na Praça XV, de Caio F.<o:p></o:p></em></span></span></div>Lídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-57417102945815339812012-05-30T13:06:00.000-03:002012-05-30T13:50:39.634-03:00Omaraka<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMXmrx8CYvtXThhe2aZPtmqkqqMDTYx-Dw9gdipLnDxXBtMnU_-zDQ5ZWp0A-Zy8woHvoRUKLNnLGwlZR52nVBLDkGMNebJZbJ6BRpJmI1ttYMD6qw4Oi441MsDTeauSHsleLUKkHa_ik/s1600/Fotograf%25C3%25ADa+0487.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMXmrx8CYvtXThhe2aZPtmqkqqMDTYx-Dw9gdipLnDxXBtMnU_-zDQ5ZWp0A-Zy8woHvoRUKLNnLGwlZR52nVBLDkGMNebJZbJ6BRpJmI1ttYMD6qw4Oi441MsDTeauSHsleLUKkHa_ik/s200/Fotograf%25C3%25ADa+0487.jpg" width="200" /></a>Gregório levanta cedo, bem cedo, antes do sol nascer. Mata um dos cordeiros mais bonitos do seu rebanho.Envolve o animal já morto num aguayo. Enquanto isso sua esposa prepara as panelas, os temperos, as batatas. É um dia
especial. É dia de <i>omaraka</i>. “A <i>omaraka</i> é <i>ayni</i>”, explica Gregório. O <i>ayni</i> é reciprocidade. Nas culturas quéchua e aymara, "<em>hoy por ti, mañana por mi</em>”.</div>
<div style="clear: both; text-align: justify;">
<br />
Dois dias antes, Gregório preparou uma bolsa com folhas de coca. Refresco. E foi visitar seus vizinhos e parentes e pedir ajuda para colher suas batatas. É que Gregório só tem um filho, de oito anos, ainda pequeno para ajudar o pai. Gregório necessitava ajuda. Os vizinhos e parentes aceitaram. Agora, Gregório também deve ajudar-los em suas colheitas. É um compromisso. É <i>ayni</i>.
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
A <i>omaraka</i> é a colheita transformada em festa. Todos se reúnem. Colocam a conversa em dia. Trabalham duro para tirar da terra as batatas maduras. Vários sabores. Várias espécies*. Durante todo o dia Gregório deve alimentar os seus convidados. São seis refeições. E é por isso que prepara com carinho seu melhor cordeiro.
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Enquanto Gregório passa o dia com os outros homens colhendo batatas, as esposas e filhas cozinham. Sopa, cordeiro cozido (que depois será assado por cada um em pequenas fogueiras de esterco). E o mais delicioso: a <i>watya</i>. A <i>watya</i> é a batata cozida com o calor da terra. A parte mais importante do almoço. A mais antiga e simbólica. Só se sabe que vem dos abuelos, os ancestrais. Desde quando? Impossível saber.
</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7A2srJ7usGdrwurWvkbN4um-4obvnAWReNNZN6mT150GJ4GF4b1JoCVMKAFNODzIG3HMgBpHQDoNtNyf7O9oLYpsKr2OwgSTIxyQ3MQF2uwcWyVNfivHwbiVKCBAODG9_aBxQEiBvOOA/s1600/Fotograf%25C3%25ADa+0502.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7A2srJ7usGdrwurWvkbN4um-4obvnAWReNNZN6mT150GJ4GF4b1JoCVMKAFNODzIG3HMgBpHQDoNtNyf7O9oLYpsKr2OwgSTIxyQ3MQF2uwcWyVNfivHwbiVKCBAODG9_aBxQEiBvOOA/s1600/Fotograf%25C3%25ADa+0502.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7A2srJ7usGdrwurWvkbN4um-4obvnAWReNNZN6mT150GJ4GF4b1JoCVMKAFNODzIG3HMgBpHQDoNtNyf7O9oLYpsKr2OwgSTIxyQ3MQF2uwcWyVNfivHwbiVKCBAODG9_aBxQEiBvOOA/s200/Fotograf%25C3%25ADa+0502.jpg" width="200" /></a>Essa <i>omaraka</i> é muito especial para Emília. É a primeira vez que ela deve preparar a <i>watya</i> sozinha. É uma grande responsabilidade, já que a batata colhida será provada. Tudo deve sair bem. Emília junta bolinhas de terra e faz uma pequena caverna. No buraco, acende fogo. Fogo que em seguida apaga, sufocando o calor com a terra. Coloca as batatas. E em duas horas o resultado de meses de trabalho está cozido, suave e tão delicioso que dispensa temperos.
</div>
<div aymara,="" style="text-align: justify;" “<i="">
<br /></div>
<div aymara,="" style="text-align: justify;" “<i="">
Nesse dia, Gregório conseguiu colher todas as suas batatas. E elas eram grandes, saudáveis, sem nenhum bichinho. Para ele, foi um dia feliz. Festa mais linda que toda uma noite de danças.
</div>
<div aymara,="" style="text-align: justify;" “<i="">
<br /></div>
<div aymara,="" style="text-align: justify;" “<i="">
Eu, jornalista de cidade, caminhei como nunca, o sol forte do altiplano na nuca. Minha falta de preparo físico se fez sentir. Preço pequeno a pagar por tão linda história e por poder ter a oportunidade de compartilhar com Gregório e sua família. Os aymaras e quéchuas são desconfiados, não aceitam qualquer pessoa em momentos tão íntimos. Agradeço por dividir comigo sua história. E pela saborosa <i>watya</i>. A melhor batata que comi na minha vida.
<strike></strike></div>
<div style="text-align: justify;">
<strike></strike></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<strike></strike></div>
<div aymara,="" “<i="">
</div>
<i><strong>*Bolívia tem mais de 500 variedades de batatas. A ironia é que algumas espécies se estão perdendo exatamente pelo que faz delas um produto especial: por não ter um sabor comercial.</strong>
</i><br />
<div aymara,="" “<i="">
</div>
Lídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-55001434264935003312012-03-20T16:51:00.008-03:002012-03-21T16:00:23.914-03:00Domitila<span style="font-weight:bold;">Domitila Barrios de Chungara. Esse foi o nome que há seis anos me fez querer conhecer a Bolívia. E ainda hoje, quando a coragem quer me abandonar, eu penso nela como exemplo de luta. Na semana passada um anjo passou pela Bolívia. Depois de cinco anos lutando contra um câncer nos pulmões, Domitila decidiu seguir-lo e continuar com sua missão desde outro lugar.<br /><br />Domitila batalhou sozinha contra o câncer, em um hospital público da cidade de Cochabamba. Protestava pela má qualidade da saúde pública no país. Seguia falando o que pensava e mesmo com uma intensa dor nos joelhos e uma tosse constante, todos os dias se levantava e dava aulas na escola de formação política que mantinha em Cochabamba. O corpo, visivelmente frágil, não conseguia opacar a força que saía dos seus olhos.<br /><br />Mas já basta de falar. Ainda que nossas conversas tenham resultado numa reportagem publicada na <a href="http://www.revistaforum.com.br/conteudo/detalhe_materia.php?codMateria=9118">Revista Fórum</a>, eu nunca vou ter palavras suficientes para expressar com exatidão quem era Domitila ou o que pensava. Depois de conhecer-la, entendo porque Moema Viezzer, no livro <span style="font-style:italic;">Se me deixam falar</span>, decidiu simplesmente transcrever o que tinha escutado.<br /><br />Como uma pequena homenagem, compartilho com vocês uma de nossas entrevistas. Desfrutem.<br /><span style="font-weight:bold;"></span></span><br /><br /><span style="font-weight:bold;">COMO FOI QUE VOCÊ DECIDIU SE METER NA LUTA SINDICAL?</span><br />Tudo esteve sempre vinculado a isso das organizações sindicais, toda luta mineira, ao meu pai. Meu pai foi dirigente sindical na Siglo XX e depois do massacre de 1942 o mandaram a Pulacayo, a um centro mineiro mais frio todavia e ali o puseram na lista negra, nunca mais lhe deram trabalho na mina de Siglo XX. Além disso, em Pulacayo eram muito marcadas as diferenças. Isso falando da minha infância, passei minha infância lá. Lá havia três tipos de famílias: Umas bem acomodadas, que era o pessoal técnico da empresa, os gerentes, engenheiros, médicos, esses que tinham boas casas com calefação, porque fazia tanto frio que eles tinham isso para que suas casas tenham calefação eterna. Tinham boas roupas, luvas e todas essas coisas para estar bem e se proteger do frio. Outro tipo de família eram os obreiros, que as mães faziam sempre prenditas de abrigo, tecendo, ou desatando casacos mais velhos dos pais para fazer casacos para uma das crianças ou para outra. Sempre as mamães tratavam de cuidar disso. E havia um setor muito mais pobre, que era das crianças órfãs, quando morriam os pais de acidente ou com o mal da mina (silicose). Não havia nenhuma vantagem para os obreiros. Quando morria o trabalhador botavam sua família para fora da vivenda e não havia nem sequer indenização. Botavam para fora as viúvas, que construíam alguma coisinha perto da mina mesmo porque não tinham nem para onde ir e ficavam por aí e com esse frio que fazia nesse lugar e as crianças quase desnudas e não tinham nem comida. Então são as injustiças que se vê, isso de uns que tem tudo e outros que não tem quase nada. E sempre os obreiros estavam organizando-se e aí foi quando eu vivi a revolução de 52, quando meu pai participou, todo o povo participou e depois quando regressaram as mudanças que aconteceram, não?<br /> <br /><span style="font-weight:bold;">QUE MUDANÇAS FORAM ESSAS?</span><br />Haviam triunfado, haviam ganhado e haviam ganhado dos três barões do estanho, se nacionalizaram as minas. Os mineiros e os operários haviam desarmado os nove exércitos que controlavam nosso país e isso com armas. E armados obrigaram o governo a nacionalizar as minas, a criar um seguro social, que é que o obreiro tenha direito a indenização por sua vida, em caso de acidente ou dano que tenha sofrido que tenham direitos seus familiares, seus filhos; uma série de coisas. Que tenhamos mais escolas e inclusive colégios, que naquela época não tínhamos, era apenas a escola onde somente podiam estudar pessoal técnico e homens. Que entrasse uma menina na escola era difícil. Meu pai só conseguiu permissão para que eu entrasse na escola quando eu tinha 10 anos, quando estava morrendo minha mãe. Éramos apenas 20 mulheres, a maioria eram homens. E os professores eram bem maus com as mulheres. Se uma cometia um erro, lhe levantam a saia e batiam uma coisa e castigavam diante de todos. Os castigos eram humilhantes para as meninas e muitas abandonavam a escola e não voltavam mais por isso. Para uma mulher era muito difícil estudar. Então meu pai sempre falava sobre as coisas que estavam acontecendo, nos explicava tudo. Dizia: “Com a revolução conseguimos isso e isso”. O direito de voto para a mulher e tudo isso. Antes somente votavam os que sabiam ler e a burguesia, não? Hoje mesmo no curso estávamos falando que nessa época havia três milhões de habitantes na Bolivia e disso somente 50 mil pessoas votavam para eleger presidente e vice-presidente na Bolívia. Éramos três milhões e só 50 mil votando, imagine. Eu sempre tive, então, essa inclinação e quando cheguei ao acampamento em Siglo XX e se organizaram as mulheres eu entrei, em 1963.<br /><br /><span style="font-weight:bold;"><br />E QUE SIGNIFICAVA UM COMITÊ DAS DONAS DE CASA NAS MINAS?</span><br />Organizar-nos no Comitê foi para nós uma escola. Na primeira vez em que as mulheres se organizaram, anunciaram na rádio da mina dizendo que nunca mais os obreiros iam lutar sozinhos, senão que iam estar suas esposas ao lado deles. No comitê tínhamos a tarefa de lutar porque os alimentos que a empresa nos trazia, por exemplo, era de muita má qualidade, tinha o preço muito elevado e era pouco, era racionado porque eram muitos obreiros. 70% do salário do mineiro ia a alimentos. Davam-nos crédito e tínhamos que pegar da loja do patrão os alimentos. Além do mais nos enganavam no peso. O Comitê começou a lutar por isso e depois por escolas, que os professores fossem profissionais, que as escolas sejam cômodas para nossos filhos, que o lanche escolar seja de qualidade. Começamos lutando por problemas sociais, depois começamos a lutar junto com os mineiros por melhores condições de trabalho, por mais material, como dinamite. Sempre coordenávamos as ações do sindicato com as ações do comitê das donas de casa. Estávamos assim lutando por melhorias quando de repente os governos anunciavam que havia uma desvalorização do dinheiro. A mais grave foi em 1974. Com um peso boliviano comprávamos seis pães, e no dia seguinte, pelo decreto, um peso davam dois pães. Desaparecem quatro pães. Eu comprava dois pesos de pão para tomar café da manhã com meus filhos. Tinha doze pães. E de repente só tenho quatro pães. Os mineiros começaram então uma greve para melhoria de salários. E então o presidente Hugo Banzer Suarez mandou tanques, declarou nosso acampamento zona militar, proibiram reuniões, assembléias, marchas, e declarou estado de sítio. Assim que não tínhamos nada que comer, as lojas de comida estavam fechadas, pois como vão vender nessa situação? Automaticamente com essas medidas econômicas sempre se fecham todos os mercados, ninguém te vende. Os filhos morrendo de fome. Aí o governo para frear esse protesto decreta estado de sítio e dá pequenos aumentos que não cobrem nem sequer 2% do que subiu. Quando já não podíamos dar de comer a nossos filhos e vendo toda essas proibições nós decidimos nos reunir. Reunimo-nos no sindicato mesmo com o exército lá fora. Era proibido, mas o que se pode fazer diante da fome dos seus filhos? Reunimo-nos chorando porque tínhamos dito que quando as mulheres lutassem junto com os homens íamos estar melhor, e começamos a pensar que estávamos era pior, porque não tínhamos nem o que dar de comer para nossos filhos. E um dirigente nos disse: “É que a luta, senhoras, não só é social, não só econômica, mas também é política”. A luta fundamental é a política. Mas já estávamos cansados de tantos politiqueiros que não são políticos e dizíamos que não, que em política não íamos nos meter, e inclusive os dirigentes mais velhos diziam: “Eu vivo do meu trabalho, não vivo da política”. E os outros diziam que “então, senhores, nunca vai melhorar nossa situação”. Na diretiva éramos 15 e então nos demos conta de que a Siglo XX era quase como um ninho de todos os pensamentos políticos. Havia de tudo: trotskistas, comunistas, socialistas, nacionalistas, governistas... Ao final voltamos a nos reunir e nos demos conta de que todos os seres humanos são políticos desde que nascem.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">COMO É ISSO?</span><br />A criança, por exemplo, quando nasce e é um bebë e começa a chorar é porque quer que troquem suas fraldas ou lhe dêem leite. Se soubesse falar diria: “Mamãe tenho fome ou fiz pipi, por favor, me troque as fraldas”. Mas como não sabem começam a chorar. Essa é a primeira manifestação política dos seres humanos. Logo tem seis ou sete anos, andará pelas ruas e de repente vê um doce, um chocolate, um brinquedo. E dirá “mamãe eu quero isso, eu quero”. A mãe diz que não tem dinheiro e não me perturbe, vamos a casa. Ele então não quer ir a sua casa e quero isso, quero isso. É o político mais sincero porque a mãe vai brigar com ele, vai bater, mas a ele não importa porque quer e ponto e não tem medo. Logo vem a adolescência do ser humano, seja homem ou mulher. Na minha casa acaba o gás e eu digo ao meu filho mais velho: filhinho, vai comprar gás. E ele vai, mas antes diz, “você vai me deixar ir nos 15 anos do meu amigo? Vai comprar para mim essa calça que está na moda? Ou me vai dar 10 pesos para ir não sei onde?” Então é isso, seguem velando por seus interesses, tem direito e seguem velando. E um dia serão maiores e se casarão. O homem estará buscando trabalho, aumento de salários, a mulher igual. E tratando de fazer com que o pouco salário alcance para pagar aluguel, comprar alimento e as coisas que tem que fazer. Os políticos sabem o que o povo quer e por isso o engana e diz que vai fazer. E muitas vezes ficamos como crianças, com medo, sem querer nos meter em política, porque ser político faz com que te assassinem, com que te levem preso, como crianças assustadas. No entanto, quando há eleições aqui na Bolívia o político te dá de presente um gorro ou umas sacolas de macarrão. Assim enganam o povo e lá vamos nós votar. Ou antes, me lembro quando cheguei aqui em Cochabamba e estava como candidato a prefeito esse que se chamava Manfred Reyes Villa, que diziam que era o bombom, que era muito bom tipo, “ai que simpático”, diziam. “Vamos votar nele”. As mulheres votaram nele porque era simpático. Sempre estamos votando pelo que nos diz a propaganda, pelo que vemos, mas não por uma linha, por uma coisa. <br /><br /><span style="font-weight:bold;">E PARA MANTER ESSE SISTEMA, TENTARAM COMBATER AOS OBREIROS...</span><br />É porque nos uníamos através da central obreira e lutamos sempre. De mil maneiras tentaram nos destruir. Em 1985 fecham as minas, com o pretexto de que a época do estanho havia passado. Mas as minas mais rentáveis continuam produzindo nas mãos de estrangeiros. E jogaram os obreiros na rua. E pensávamos no nosso acampamento, nessa casa que ocupei desde que era menina. Pensei que era minha casa. Mas justo em 1985 nos dão 24h para desocupar as casas: “Fora, fora, fora”. E nos botaram a todos. Quando saiu a lei de desocupar os acampamentos, de nos retirar a todos, nos olhávamos entre todas as famílias, os vizinhos, nossos filhos, e choramos. “Aonde vamos? Não sei”. E as wawas (crianças) igual não queriam ir por seus amiguinhos, sua professorinha, sua escolinha. Estivemos seis meses agüentando isso. A empresa já não nos dava nem um pão nem nos pagava o salário. Diziam: querem ir-se damos o dinheiro da indenização. Assim que agüentamos muito tempo com marchas, protestos, mas não pela decisão de nos botar da mina apenas. A central obreira era forte e por isso nos botavam mineiros, operários, construtores. Porque o decreto 21060 diz que o patrão tem direito a livre contratação de seu pessoal. Antes não havia essa lei. Ninguém podia despedir os obreiros sem uma causa justificada. Teriam que justificar porque estavam demitindo. Mas pela lei de livre-contratação, da noite para o dia estavam botando os obreiros e contrataram por salários mais baixos outro pessoal, mais jovem. O pai dos meus filhos trabalhou 30 anos de sua vida e de tudo isso lhe deram 3 mil dólares de indenização. Com isso não podíamos comprar nem um pequeno lote, nem uma pequena casa. E como já era velho, a primeira carta para se retirar foi mandada a ele. Fomos retirados do nosso trabalho, do lugar onde vivemos toda nossa vida, onde estão nossos mortos, onde envelhecemos. Posso te dizer com muita segurança que o que queriam era acabar com a central obreira, que era o que parava tudo. Isso porque sua vanguarda era os mineiros, que sempre fomos unidos e conscientes da luta de classes e tudo isso. Destruíram tudo. Mas era como um fogo que estava ardendo. Para destruí-o repartiram as brasas e as brasas foram a todos os lugares. Essas brasas se espalharam pelo país e estão aí, ardendo. <br /><br /><span style="font-weight:bold;">A REPRESSÃO SEMPRE ESTEVE PRESENTE.</span><br />Quantas vezes, companheira, entravam de noite o exército e levavam nossas coisas. Se havia um livro novo, se havia um relógio, um rádio, um televisor, o carregavam. Uma vez esses vendedores de livros nos estavam dando esses dicionários Larousse a crédito. E uma das minhas filhas uma vez disse que a professora havia pedido esse livro e que era completo e que os pequenos que ela tinha não serviam e não queria largar o livro. E nos deram seis meses para pagar o dicionário. E estava assim feliz quando o exército invadiu nossa casa e o primeiro que levaram foi o tal livro. E ela chorava: “ai meu Larousse não, meu Larousse não, ladrões, estão levando meu Larousse”. E quando se deram conta os militares de que ela estava gritando que estavam roubando seu Larousse, colocaram entre a porta e a janela três metralhadoras, junto com nossas coisas, para dizer que eu tinha armamento e por isso estavam levando minhas coisas. Depois que passou o conflito os companheiros vieram me falar, mas companheira, como você pode ter sido tão tonta, porque não nos deu as armas para lutar e eu falava “que armas o que, se eu tivesse essas armas imagine se eu não ia me defender”. Totalitarismo é isso, que levam suas coisas, não te deixam falar, não te deixam gritar, que te maltratam e não há liberdade.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">QUAIS ERAM OS DESAFIOS QUE A MULHER TINHA QUE ENFRENTAR NAQUELA ÉPOCA E QUAIS SÃO OS DESAFIOS HOJE?</span><br />Eu penso que a discriminação a mulher também tem seu objetivo político. Isso veio com a cultura européia, a começar pela religião. Dizem que por culpa de Eva perdemos o paraíso. Ou quando fazemos esse sinal, Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, onde está a mãe? De onde nasceu o Filho? Começa daí a discriminação contra a mulher. A mulher em nosso país não ensinaram nem a ler, nem a escrever. Diziam que nos mulheres tínhamos que ser educadas apenas para descascar bem as batatas, moer a pimenta e olhar as wawas. Meu pai foi um homem de muita inteligência que brigou muito para que eu entrasse na escola. Estive seis anos na escola, depois me casei, tive meus filhos. Os ajudei com as lições da escola enquanto pude, mas chegou um momento em que eu não sabia mais as matérias para ensinar-los. E diziam: “ah a mamãe agora é malvada, não nos quer ensinar”, não podiam crer que eu não sabia. A mulher devia ter mais conhecimento que o homem, pela posição que ocupa como mãe, porque tem que ajudar a seus filhos. Quanto dói a ignorância quando não se pode ajudar os filhos. Quando pela primeira vez se organizaram as amas de casa em Siglo XX todo mundo as criticou. Diziam que íamos mandar o homem a cozinhar e a cuidar das wawas. “Ai que atrevidas!”, diziam. E insultavam as mulheres que se organizavam com grosserias. Dizer que era do comitê era como dizer que era prostituta. Até meu marido tinha uns ciúmes terríveis, queria saber qual dirigente era meu amante, com qual eu estava e coisas assim. Que nos haviam visto e todas essas coisas. Ao final nossas lutas eram conjuntas e não havia mais dessas coisas. Hoje, um problema que há entre nós mulheres é a inveja. Ninguém, nem a filha de um rei, pode fazer as coisas sozinha. Temos que ser tolerantes e solidarias entre nós. Temos que aprender a respeitar-nos e também a respeitar nossas debilidades. É não pensar que você sozinha pode fazer tudo, pode ser que outra pessoa saiba fazer melhor que você. Além disso, perder o medo é o principal. Pouco antes da greve de fome que fizemos (em 1976) um padre me chamou para dar uma palestra. E o exercito proibiu, diziam que era zona militar e não se podia. “E agora, que vamos fazer?” “Vamos”, eu disse ao padre. O padre então colocou o microfone bem forte, eu falando as coisas que tinha que falar e as pessoas foram chegando, se aproximando. E eu falei no microfone, a todo volume: “Olha companheiros, eu sei que me estão escutando, pois eu vou fazer uma pergunta. Quem é nosso inimigo? Quem é nosso inimigo principal? Vocês dirão que é o exército. Os paramilitares. O governo. O imperialismo norte-americano. Não, companheiros. Nosso inimigo principal está em nós mesmos e é o medo. Esse medo que nós temos. O dia que matarmos o medo em nosso corpo não haverá forca capaz de nos impedir. Quando todos perdermos o medo, vamos nos unir e vamos ser fortes.”<br /><br /><span style="font-weight:bold;">EM ALGUM MOMENTO VOCÊ TEVE MEDO?</span><br />Em muitas oportunidades eu tive medo. Um não é super homem ou super mulher, isso é mentira. Quando se está presa, por exemplo. Quando se sabe que vão te torturar. Quando chega a noite. Depois que perdi meu filho na prisão via um militar na rua e sentia tanto medo, não podia nem falar e queria correr e escapar. <br /><br /><span style="font-weight:bold;"><br />QUE TE MOTIVA A SEGUIR?</span><br />O exemplo das pessoas. Choramos, enterramos nossos mortos, e seguimos adiante. A raiva impulsiona, não paralisa. Nossos pais morreram cuspindo os pulmões, fazendo riqueza para outros, e, todavia não nos resta nada. Quando vemos meninos que caem nas drogas por não resistir a sua miséria, sua fome e sua solidão nas ruas, e, no entanto, outra gente tem tanto. Isso dá mais força, seus conhecimentos te dão mais força. O exemplo do seu povo te dá mais força. E sempre lembro dos conselhos do meu pai, meu pai sempre me aconselhou muito. Muitas vezes tive momentos muito tristes. Senti uma grande dor quando soube que mataram minha irma, quando saí da mina... Tanta dor, muitas vezes, muitas...<br /><br /><span style="font-weight:bold;">QUE NÃO FARIA SE PUDESSE VOLTAR NO TEMPO?</span><br />Às vezes nos distraímos brincando. Eu participaria mais da luta se soubesse mais coisas antes. Agora mesmo me dói que já não posso caminhar muito, que não estou muito bem de saúde para fazer todas as coisas que são necessárias. Não posso participar como eu gostaria. Eu vim do povo, o povo me ensinou tudo que eu sei. E agora que o povo necessita quadros novos, gente nova, tudo isso, minha obrigação é devolver ao povo o que aprendi do povo. Essas enfermidades me atrapalham um pouco. Tive embolia pulmonar, mas tenho que seguir.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">QUEM É DOMITILA HOJE?</span><br />Meu pai foi campesino e trabalhador mineiro. Eu me sinto muito orgulhosa. Minha vida está relacionada com meu povo. Sou mineira. Filha de mineiro. Esposa de mineiro. E tenho muito orgulho disso.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">QUE TE FALTA FAZER?</span><br />Continuar. Continuar a luta, conscientizar. Queria ter o poder de falar com toda a gente para transmitir toda a experiência para que não cometam os erros que cometemos e possam seguir adiante. Seria tão lindo uma aliança entre toda a América do Sul. Para que sejamos uma só força, com mais segurança. Não nos unimos porque criam regionalismos, mas temos que nos unir, mais ainda agora que a Madre Tierra está agonizando. Quando tudo se acabe que vamos fazer? Por acaso vamos comer dólares? Nesse momento até parece que não existe porque lutar, mas é agora que temos que ser mais firmes na luta.Lídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-16057150154130953152011-07-23T14:55:00.001-03:002011-07-23T14:55:56.452-03:00MúsicaEle diz que escuta essa música e quer agarrar a mochila, cair no mundo e deixar toda essa merda. A menina faz que sim com a cabeça. Entende, porque um dia quis o mesmo. E encheu a mochila de cacarecos e deixou tudo o que a assustava tanto. Partiu. Chegou até ele depois de um caminho meio largo, e o abraçou com o desespero dos náufragos quando agarram algo na busca louca por não afundar. Ela agora quer a simplicidade de comer essa tangerina embaixo de uma árvore. Quer olhar para ele de pertinho, vendo a barba, os cravinhos na pele, as imperfeições e o traço perfeito da boca.<br /> - Entendeu o que fala a música?<br />Ela diz que não. Uma e outra vez, até que a música acaba. Só para escutar o que ele explica, esse rolo todo de metáforas e significados.Lídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-75422778186576650452011-07-18T13:38:00.001-03:002011-07-19T16:49:11.770-03:00AntroUm bar só de homens. Um nicho especial onde eles se reúnem depois do trabalho para beber. Homens de todas as idades, pesos, tamanhos, classe social. E eu. Numa mesa com mais três homens. A princípio foi um pouco incomodo. Depois, ficou divertido. As reações eram as mais engraçadas possíveis. À medida que eu ia entrando naquele templo da cerveja, parecia mais e mais uma peça de decoração kitsch perdida na casa de um mecânico solteiro.<br />Aqui em La Paz lugares assim são muito comuns. Você passa pela rua e vê uma escada que desce e termina numa escuridão sem fim. Um buraco horroroso, tudo fechado, tudo secreto, cheio de cerveja, suor, perfume de homem. A lógica te diz: é um puteiro. Mas eles garantem sempre que não.<br />- Que são esses lugares?<br />- Só bares. Para homens.<br />- Ahn?<br />Até que nesse dia pude enfim entrar nesse lugar sagrado, reservado para os machos da espécie. Ao contrário do que muita gente possa pensar, quando estão aí eles não querem ver mulheres. E depois de um tempo olhando, entendi. É o mesmo mistério com relação ao banheiro feminino. Poder estar sozinho ou com semelhantes em uma zona de conforto.<br />Por exemplo. Num primeiro encontro, a gente capricha. O salto machuca, o decote incomoda, a maquilagem nunca é a ideal, o cabelo nunca está como deveria. Até a mais segura das mulheres já sofreu isso pelo menos uma vez na vida. Nesses momentos o banheiro é a zona de conforto. Não é só pra fazer xixi. É pra por um algodãozinho no pé, olhar no espelho e ter a certeza de que tudo está bem, calma, calma, tudo vai estar bem. Zona de conforto.<br />Todo homem vai nesse tipo de bar um dia. Casados ou solteiros. Os pais ensinam os filhos. E assim, com cervejinha e amizade, todos vão construindo relações sociais, amenizando a vida e solucionando problemas do mundo exterior.<br />Ver a sensação de incomodo desses homens com a minha presença me provocou mais que graça. Me fez sentir uma grande ternura por toda essa raça que as vezes parece tão estranha a nós mulheres. Timidamente, olhando pra mim como que pedindo licença ou desculpa por arrotar ou tirar meleca do nariz, ou coçar o saco ou gritar palavras feias.<br />Aí, nesse singelo caos, comecei a me sentir a vontade também. E tirar a primeira meleca e a coçar o saco imaginário. No final descobri que a vida é linda quando nos sentimos livres, sem querer impressionar. Com arrotinhos tranqüilos num fim de tarde e um sorriso sincero atravessando o copo de cerveja fria.Lídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-37904473447484009282011-06-28T17:07:00.001-03:002011-06-28T17:09:34.269-03:00- Eu vou ser porteira.O rosto enrugadinho sorri meio sem jeito. As mãos meio vacilantes ajeitam bem rápido o gorrinho de tricô. Em seguida os dedinhos pequenos alisam o casaco gasto, entram pelos botões e coçam a pele cheia de histórias sob o corpinho do vestido. Coça a orelha.<br /><br />- Sabe, estou há meia hora esperando a senhora que vem me buscar. É uma casa de luxo, na Zona Sur. Mas essa gente é meio esnobe, você acha que eu devo aceitar?<br /><br />Diante da pergunta, olho com mais atenção a senhora cheia de expectativa que está sentada ao meu lado.<br /><br />- Penso que essa gente vai me tratar mal. Mas é bom o trabalho, vou ficar sentada, vou ter comida. Mas e se me maltratam?<br /><br />Lhe digo que experimente, e se não gosta, que deixe o trabalho. A pequena e magra senhora, no entanto, não pára de falar. Tem dois filhos que já não sabe onde estão. Tem amigos que lhe ajudam. Tem 200 pesos de ajuda do governo. Tem histórias que “nem gostaria de lembrar”. Tem uma casinha humilde com uma janelinha por onde vê passar a vida de quem ainda corre apressado por ter muito o que viver. E tem medo, muito medo da gente que maltrata os pobres. Com sua voz fina e fraquinha, a única coisa que não tem é alguém que lhe escute os problemas e neuroses. Coisas da solidão. <br />Fala de estar sozinha como se não se importasse, mas aos poucos os olhinhos rasgados se enchem de lágrimas:<br /><br />- Gosto de ver gente.<br /><br />E olha o horizonte povoado por trabalhadores indo para o horário de almoço. Os dedinhos se entrelaçam e fazem movimentos nervosos ao som de uma morenada que não está tocando. Respira fundo mais uma vez. <br />Chega a futura patroa. Pede desculpas. E intima a senhora-formiguinha a entrar no BMW.<br />Com passinhos lentos e delicados a senhora se dirige ao carro de luxo. Antes, cochicha em meu ouvido que nunca havia entrado em um carro assim. Como seria seu cheiro? <br />Bate a porta. Abre a janela:<br /><br />- Meu nome é Ana. Te conto depois – E acena como se eu fosse uma velha amiga.Lídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-89041229482480349732011-04-18T14:20:00.007-03:002011-05-23T18:44:16.812-03:00Memorias del fuego“No altiplano andino, mama é a Virgem e mama são a terra e o tempo. A terra, a Mãe- Terra, a Pachamama, se enfurece se alguém bebe sem convidar-la. Quando ela tem muita sede, rompe a vasilha e a derrama.<br />A ela se oferece a placenta do recém-nascido, enterrando-la entre as flores para que a criança viva. E para que viva o amor, os amantes enterram seus cabelos enrolados. <br />A deusa terra recolhe em seus braços os cansados e os quebrados que brotaram dela e se abre para dar-lhes refugio no final da viagem. Desde abaixo da terra, os mortos a florecem”<br />De Memórias do fogo – As caras e as máscaras – Eduardo GaleanoLídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-74055626308741223432011-03-24T17:47:00.003-03:002011-03-28T14:00:16.869-03:00Não custaDeita no chão de casa e para um pouco pra olhar o céu. É economizar energia e ao mesmo tempo tirar uma horinha da nossa vida agitada pra sentir a música da vida, aproveitar pra bater um papo olhando a lua ao lado das pessoas que você mais ama e que nunca escuta. Deixe o planeta respirar e respire também. Você pode ter uma grande surpresa. =D<br /><br /><span style="font-weight:bold;">É SÁBADO, 27 DE MARÇO, ENTRE 20h30 E 21h30 (HORA DE BRASÍLIA)</span><br /><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3VRS94Ei-TUPymp9eWHbUJr3ppUgiVjqzUvnzB2axVffs2u8qthnVtQ8RJAvRaXcKP_7nVsLKtS4A9xnhw84lrBcooZD3tW1JjSvnAYvWa1YVY7VzsKviE7zcgE_UfqsMYBEvsqEfMJY/s1600/hora+do+planeta.png"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 366px; height: 368px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3VRS94Ei-TUPymp9eWHbUJr3ppUgiVjqzUvnzB2axVffs2u8qthnVtQ8RJAvRaXcKP_7nVsLKtS4A9xnhw84lrBcooZD3tW1JjSvnAYvWa1YVY7VzsKviE7zcgE_UfqsMYBEvsqEfMJY/s400/hora+do+planeta.png" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5587754155359173634" /></a>Lídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-86967179508847373952011-02-24T15:29:00.005-03:002011-02-24T15:45:34.507-03:00O senhor da abundância<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhMiNlpaHJH0BaEbZiTzUWIyNcHls-ki6DRsvjlmTESQefLt3U64aon8Jtkh2PmBTUtwPJCrUcWhlg3tweL3okDxWXk_gekX-30wVeYzUTDHrZy9h9vG3A0J6Gg_URN3g-GxVt6j97Tx4/s1600/ekeko4.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhMiNlpaHJH0BaEbZiTzUWIyNcHls-ki6DRsvjlmTESQefLt3U64aon8Jtkh2PmBTUtwPJCrUcWhlg3tweL3okDxWXk_gekX-30wVeYzUTDHrZy9h9vG3A0J6Gg_URN3g-GxVt6j97Tx4/s400/ekeko4.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5577326166703583922" /></a><br />Aperto. Suor mesmo a 10 graus centígrados e baixo uma chuvinha fina. Nas mãos das pessoas carrinhos, cestinhas com comidinhas pequenininhas e mais uma grande variedade de inhos. Esses mês tudo é inho. É tempo de miniaturas em La Paz. É tempo da feira de Alasitas. Todos saem para comprar em miniatura as coisas que desejam ter grandes. O frio ar paceño fica com um cheiro forte de palo santo. É que além de comprar tem que fazer ch’allar com um yatiri, um bruxo andino, o que cria o vínculo entre o desejo das pessoas e o senhor das Alasitas, Ekeko. Ele vai fazer o pequenino ser grande. O Ekeko. Senhor da Abundância.<br />Também há cerimoniazinhas. As pessoas se casam, fazem batismos e até divórcios. Compram casas, lotes, planejam viagens e tiram passaportes. E recebem seus documentinhos. Tudo jurado em cartorinhos e devidamente selado com carimbinhos.<br />La Paz sempre tem uma certa magia no ar, mas essa época é especial, doce. Nossas casas ficam com um cheiro bom de flores com mel e açúcar. O pequenininho é também uma sementinha no coração de que tudo vai dar certo. Agora a esperança para mim tem cheiro, e é fumaça de palo santo. É flor e suor. É maçã-do-amor e miniatura de pão e rosquinhas.<br />Eu também já fiz minhas comprinhas em Alasitas. Infelizmente ainda não se pode comprar um bloguinho. Mas junto com tantos projetos, O Sussurro e a opinião de todos vocês é muito importante para mim. Essa é minha primeira postagem de 2011. E aqui, desde Los Andes, desejo a todos muita sorte e agradeço por estarem comigo. Esse ano vai ser espetacular. Vocês podem ver? Eu sim, ta evidente nesse sorriso maroto do Ekeko.<br /><br />P.s.: O Ekeko é boliviano de origem. Não peruano. ;DLídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-26613977041866137572010-09-22T11:22:00.001-03:002010-09-22T11:23:58.135-03:00PreparaçãoOs dedos tocam o rosto. A pele macia, o toque, o calor da mão que conseguia cobrir-lhe a bochecha. Assim ele lhe desvendava, lhe descobria. A deixava sem defesas e fazia tremer todo o seu corpo. Abraço. Miradas suaves. Perfeição. É conto de fadas, a união do dual, a complementaridade. Yin e Yang. O reencontro. <br />Abre os olhos. Vazio. Nada. Não há mais sonho. Os olhares são duros. Caminha e sente os cristais que penetram finos os pés desnudos. O piso amadeirado se tinge de vermelho. Pela janela entra um vento frio, cortante. Já não há borboletas nem sol. Chuva? Não. O vazio do frio inexplicável. Mas vai passar. E ela sabe.<br />__________<br /><br />Em um mês chega a primavera. Só um mês? É necessário preparar-se. Senta-se no sofá quente de lembranças. Olha os pequenos pés delicadamente feridos. As cortinas já não voam. Tira da pele um por um os delicados cacos. <br />Mete os pés na bacia que jaz ao lado com sua água transparente. A água fria a tira de seu torpor: a vida não é só memória e sonho. Depois do choque sente entre os dedos um estranho prazer: a vida tampouco é apenas realidade. Enxuga os pés, cada curva, os dedos, as unhas, o calcanhar. Olha os pequenos pontos rosados. Já não há sangue e até consegue ver beleza nas feridas. <br />Fecha os olhos. Respira fundo. E resolve voltar a sonhar em outro contexto.Lídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-43334423096777569372010-09-09T21:17:00.000-03:002010-09-09T21:19:24.938-03:00Miradas- O problema é que você olha as pessoas nos olhos.<br />- ?????<br />- É, não se pode olhar as pessoas nos olhos.<br />- Por que?<br />- É perigoso, avisam até nos aeroportos. Você dá abertura para que as pessoas cheguem até você.<br />- Isso é ruim?<br />- É perigoso.<br />- Não dizem que os olhos são as janelas da alma? Pois é, o problema é que sou muito bisbilhoteira, adoro uma janelinha.Lídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-83152311157191239762010-04-29T14:24:00.004-03:002010-04-29T14:32:02.383-03:00A menina dos sapatinhos vermelhos- Rasga-me com a força de uma espada forjada em mil ressentimentos.<br /><br />Assim começava a fala da menina que não sentia sua vida clareada pela luz da lua cheia feita para os amantes. Sentada embaixo de uma árvore sem folhas, ela só sabia olhar as estrelas com os olhos opacos. Olhos que só podem ser tão apagados porque já brilharam demais. Como pode algo tão recente doer tanto? Doía. Com aquela dor estranha e silenciosa que corrói as entranhas, fechou os olhos por uns instantes. Estava cansada. Tão jovem e tão cansada. A verdade é que não sabia por onde ir. Sentia-se cansada e estúpida, o tipo de pessoa que jamais poderia ser amada de verdade por alguém. <br /><br />- Sangra e faz jorrar esses ciúmes amargos e doloridos, coração. <br /><br />Era o apocalipse interno. A força de mil dragões torturando-a e rindo de sua agonia. Por que amar dói tanto? Era a única coisa que ela queria entender. A pobre menina de sapatinhos vermelhos que não tinha estrada amarela para seguir, só um amor gigantesco e uma vontade enorme de gritar. Quando ouviu o grito da louca que cantava na esquina, sorriu. Queria ter a liberdade dos loucos, que em seu delírio não se importam com quem quer que seja, só com os próprios devaneios, com os amores de sonho. Deve ser bom ter um amor de sonho. Desses em que não existe o perigo de cair da cama e esborrachar-se na realidade dura e gelada. Que merda de realidade, menina. Você deveria mesmo ter seguido Alice e ficado pelo País das Maravilhas, que aqui só há dor e ressentimento. Respirou fundo. Sentiu o ar quente e seco agredindo suas narinas. <br />Depois de chorar lágrimas de açúcar amargo, a menina adormeceu. Acordou com um incômodo nos pés. Durante o sono os pés cresceram atrevidos, esborrachados e feios, e rasgaram o delicado sapatinho vermelho-brilhante. Pronto. Agora era seguir descalça mesmo, sentindo a rudeza das pedras e a aspereza da terra. Era sua vez de, despida de tudo, encarar a vida. E dessa vez nem o Mágico poderia intervir por ela.Lídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-59124514235435553812010-04-14T16:36:00.002-03:002010-04-14T17:15:50.809-03:00A gotaA gota caiu do cabelo e inundou toda sua vida como uma forte tempestade. Por alguns segundos o frio quis se aproximar, mas com um leve movimento de cabeça viu os olhos que fariam ferver o seu corpo mesmo no meio da neve. A água dos cabelos evaporou rapidamente com o calor do encontro de corações. Lá fora as nuvens descobriram devagar o pico nevado do Illimani. O sol nasceu. A cidade despertou. As pessoas movimentavam-se apressadas nas calçadas estreitas. Ali, dentro da casa, o relógio resolveu congelar seus ponteiros: o tempo pertence a eles.Lídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-46445501406227761662010-03-03T17:37:00.005-03:002010-03-03T17:46:59.230-03:00Literatura ordináriaEsse é um projeto do jornalista, escritor e amigo do peito <a href="http://fellipefernandes.wordpress.com/">Fellipe Fernandes</a> (!). A ideia é simples. Várias pessoas escreveram um conto com o seguinte início: <span style="font-style:italic;">Depois de limpar as marcas de pasta de dente na pia...</span><br /><br />Lá tem um conto meu e vários outros muito bacanas também. Vale a pena conferir:<br /><a href="http://fellipefernandes.wordpress.com/projeto/">Literatura ordinária.</a>Lídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-63110205143594394642010-02-10T18:24:00.005-02:002010-02-25T19:28:35.551-03:00DesafioEsse é o rótulo da cerveja boliviana Paceña Huari - que aliás é muito boa. Nele tem o Chaves (o do seriado do SBT, com s, não o da Venezuela) e um elefantinho. Confesso que quando me falaram disso eu só achei o Chaves e me ferrei no elefantinho, mas para que eu me sentisse inteligente e superior, um argentino que estava junto não conseguiu achar nem o Chaves. Quem achar os dois primeiro vai ganhar um prêmio que vou trazer de La Paz.<br /><br />ATENÇÃO: Não escrevam suas respostas nos comentários e sim enviem para lidia.amorim2@gmail.com.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBQSDGLh4wSLbypA9cxely0E5hOv0hxLlUD1l-x_qJ3av5wuSHTiR2rDiVZ5YBwx8ZTXtEWGQyIDIBdKN9_suwEjh5vu1xuoGihyFTGN286k62stDsDWNxo6445T4MUo8Vb2r2PPo1sKE/s1600-h/Digitalizar0005.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 337px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBQSDGLh4wSLbypA9cxely0E5hOv0hxLlUD1l-x_qJ3av5wuSHTiR2rDiVZ5YBwx8ZTXtEWGQyIDIBdKN9_suwEjh5vu1xuoGihyFTGN286k62stDsDWNxo6445T4MUo8Vb2r2PPo1sKE/s400/Digitalizar0005.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5436709767376475634" /></a><br /><br />VALENDO!<br /><br />P.s.: Tem que explicar direito onde está o elefantinho, ta? Inventar elefantinhos não vale =D<br /><br />UP: JÁ COMPREI O PRÊMIO, QUE É LINDO LINDO. ATÉ COMPREI UM PRA MIM TB. COMO EU JÁ DISSE NOS COMENTÁRIOS, MUITA GENTE ACHOU O ELEFANTINHO E DUVIDOU NA HORA DO CHAVES, MAS É ISSO MESMO, MINHA GENTE: O CHAVES TA NO BARRIL. ;D E O ELEFANTINHO TA NO CANTO INFERIOR ESQUERDO. BEIJO E AMANHA ESCREVO AS NOVAS AQUI DO ALTIPLANO!Lídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-42952797931367632072010-02-10T17:05:00.007-02:002010-02-10T18:24:02.922-02:00Latinoamérica"Hoje vejo o mundo em amarelo<br />Já houveram dias azuis e outros verdes<br />E sinto minha necessidade de amar latente<br />É tão forte que incomoda<br />Que dói, sangra e mancha meu tapete.<br />Enfrentar os medos e viver<br />Não há caminho alternativo<br />Os senderos estão claros<br />Eu sei que preciso sair.<br />Gosto de ver o sol<br />E de sentir o gosto salgado do mar<br />É, eu sei, eu preciso viajar<br />Aquela índia que me chamou da outra vez voltou<br />Me tocou e me disse pra viver<br />Pra tomar chá no Suriname<br />Pra morrer de frio no Yuni<br />E pra correr pelo Atacama<br />Essa lágrima insistente não cai<br />O coração é duro e grande<br />E cabe tanta coisa que a cabeça não entende<br />O meu sorriso só vem com o sol<br />Mas um sol de latinoamérica<br />Eu preciso ver nascer."<br /><br />Amanhã estou indo novamente para a Bolívia, país que definitivamente ganhou meu coração. Calma gente, ainda não é para sempre, volto no comecinho de março. No decorrer da viagem vou postando algumas coisas, não pretendo abandonar o blog de novo.<br />O texto acima é da amiga e jornalista Ana Lúcia Nunes, pessoa que admiro muito e que me ajuda a ter mais coragem com seus conselhos loucos. Uma parceira no sonho de caminhar pela América Latina.Lídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-34794003013574922902010-01-18T14:06:00.011-02:002010-01-18T15:06:24.769-02:00Democracia?<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNXYcRSEYMh9iVrgFBFP7zGbxkQn5cYTU2EnDmtJzzdc0EBrAXhHMx7rCmY69uQXUfjIOOWnNNiw8HiKT_5O9AaY5DZwdWwxmJvCnQugJT7SvxufRW0LfMgUKXYR4iOeOKh1BOI0tiWMI/s1600-h/Entende-agora-por-que-nunca-gostei-de-gravatas-700492.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 290px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNXYcRSEYMh9iVrgFBFP7zGbxkQn5cYTU2EnDmtJzzdc0EBrAXhHMx7rCmY69uQXUfjIOOWnNNiw8HiKT_5O9AaY5DZwdWwxmJvCnQugJT7SvxufRW0LfMgUKXYR4iOeOKh1BOI0tiWMI/s400/Entende-agora-por-que-nunca-gostei-de-gravatas-700492.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5428112094303370242" /></a><br /><br />Policial reprime ato contra a corrupção diante da Câmara do Distrito Federal, no dia 11 de janeiro. A foto é de Carlos Silva. Do blog do jornalista <a href="http://bravonline.abril.com.br/blogs/blog_armando.shtml">Armando Antenore</a>.<br /><br />E não foi só a repressão. Vale lembrar que houve uma denúncia anônima (exibida no Jornal Nacional) de que o governador do Distrito Federal José Roberto Arruda teria obrigado funcionários a formarem o tal Movimento Pró-Arruda, isso para rebater os protestos contra a corrupção.<br /><br />ANO DE ELEIÇÃO, GENTE. Vamos ter memória, ok?Lídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6343905711363128927.post-10526216927811633412010-01-11T16:22:00.001-02:002010-01-11T16:56:57.528-02:00O grito<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7S1KPHXcVXnm8yWRy-2d6of0ddd-hdyrt6WiTo-TJjQt_xJS4ZmMPu6HQGoOnI8TiEr87XUG5Ag6qdILqnbkZjnQW0FlN-spZ2Qnr_JKAkkrvO3sDlFkOEzEefHPtAEAx5ndpUSLNNTQ/s1600-h/room.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 283px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7S1KPHXcVXnm8yWRy-2d6of0ddd-hdyrt6WiTo-TJjQt_xJS4ZmMPu6HQGoOnI8TiEr87XUG5Ag6qdILqnbkZjnQW0FlN-spZ2Qnr_JKAkkrvO3sDlFkOEzEefHPtAEAx5ndpUSLNNTQ/s400/room.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5425557375852461682" /></a><br />Enjoei de ser tom pastel. Sinto no peito a dor de quem precisa de explosão. Quero amarelo brilhante, laranja, vermelho sangue. Quero o grito, o berro. O sussurro dolorido e gostoso que arrepia os pêlos da nuca. A paz de ser intensa. De ser forte. De ser mais. Quero o corpo que geme e se contorce. Quero a água gelada que desce doendo no peito, a cachaça que rasga a garganta. Os cabelos ao vento, a paixão que arrebenta limites e esquece fronteiras. O beijo que consome, a mordida que deixa marcas. A mão que agarra pela cintura, puxa os cabelos e acaricia o rosto. A revolta que arrebenta depois de anos de opressão. É sede de infinito, do que não tem nome, do que não tem explicação. Quero me consumir numa chama eterna de amor. Desejo e luta. Revolução.<br /><br />*Foto de Erica Gonsales do blog <a href="http://maismalagueta.blogspot.com/">Malagueta</a>.Lídia Amorimhttp://www.blogger.com/profile/00121079883490937733noreply@blogger.com2