O que mais me chama atenção na trupe – e isso eu coloquei na minha matéria que saiu no Diário da Manhã - é a capacidade de mobilizar jovens e adolescentes que as palavras de Fernando Anitelli possuem. Conheci muitos fãs do grupo. Todos eles falam de algum tipo de transformação provocada pelas mensagens d’O Teatro Mágico. Grupos se formam para ajudar o próximo, para poetar, para sorrir. E isso consegue ser ainda mais belo que os movimentos delicados de Gabriela Veiga no tecido – e olha que a moça sabe fazer coisas lindas pendurada num pedaço de pano, como bem dá para ver na foto acima.
Então chega de conversa fiada. A pedido de alguns raros de Goiás, resolvi postar a entrevista integral que fiz com o criador e vocalista do Teatro Mágico, Fernando Anitelli. As fotos são de Mariana Oliveira - pessoa rara mesmo. Para os fãs, que me ajudaram com a matéria do jornal que saiu antes do show, muita coisa é batida e nem tem lá muita novidade. Para quem não conhece o trabalho da trupe, vale a pena ler. Então é isso. Senhoras e senhores, com vocês, O Poeta.
Lídia Amorim – Como surgiu O Teatro Mágico?
Anitelli - O Teatro Mágico surgiu justamente baseado em saraus, na perspectiva de agregar artistas, músicos, atores, nessa idéia de juntar tudo num mesmo ambiente, numa coisa só. A partir desses saraus, que realizávamos entre amigos, eu resolvi montar o Teatro Mágico. (Aqui Anitelli me pede para esperar um minuto e diz delicadamente para outra pessoa: "Coloca trinta de gasolina, por favor?") O pessoal gostava muito dos saraus e eu percebi que a gente tinha aquela capacidade de misturar os instrumentos, as expressões artísticas, tudo. E inspirado nisso eu resolvi montar o Teatro Mágico. Convidei alguns amigos que também participavam dos saraus, amigos que faziam teatro, outros que faziam circo e desde 2003 até hoje a gente está aí nesse caminho cada vez mais agregando outros músicos, outros artistas, buscando sempre amadurecer, melhorar o trabalho.
LA – O grupo defende a liberdade de acesso à cultura. As músicas estão todas disponíveis para baixar no site e os CDs são vendidos a preços populares. Como o grupo se mantém?
Anitelli - Tem que ter um grupo disposto a enfrentar todas as adversidades, disposto a aprender sempre com o outro. Um grupo que saiba ser paciente, que saiba que arte não é esse estereótipo que muitas vezes as mídias buscam vender do artista famoso que simplesmente faz uma apresentação e não está nem aí para o público. Não. Nosso trabalho é tranquilo, é muito pé no chão, feito de maneira muito clara para o nosso público. A gente consegue fazer as coisas e se movimentar vendendo os ingressos (dos shows), vendendo os CDs a preços populares, camisetas, todas essas coisas. A gent
LA – Você concorda então que a tendência é a internet mudar totalmente o jeito de o artista divulgar seu trabalho...
Anitelli - Sem dúvida alguma. O músico sempre esperou o bom-humor de alguém que falasse: “Olha, eu tenho um contato na televisão ou no rádio. Tenho um amigo, um parente, um sobrinho”. Essa coisa do amiguismo, do contato, isso tudo começa a se perder a partir do momento em que você faz um trabalho consistente e que você sabe que pode realizar de maneira responsável, com o pé no chão, sem cair nas armadilhas que a mídia coloca, de ter que dizer que artista é aquele que tem que aparecer na televisão num programa de domingo e se joga numa bacia d’água.
LA – O trabalho do Teatro Mágico tem conseguido atingir o público jovem e provocado certa mobilização. Em Goiânia e em Brasília, por exemplo, existe o TruPcando em Sonhos, em que jovens se reúnem para fazer música, poesia, arte circense e ajudar o próximo. Você esperava que fosse gerar tudo isso?
Anitelli - Esse tipo de mobilização eu não esperava. Quando criei o projeto do Teatro Mágico eu achava que ele tinha força suficiente para se manter vivo, para se fazer acontecer. Agora, a maneira como o público ia responder às nossas mensagens, às músicas, eu não sabia. Fico feliz da vida de ver jovens, adolescentes, universitários, os pais, os avós, gente se interessando por literatura, por circo. Gente dando outros valores para a arte, para a cultura, fazendo saraus. Para mim isso é fabuloso, é uma resposta linda desse trabalho que começou do nada. Isso mostra que o projeto tem um conceito que vai além daquilo que a gente está mostrando no palco. É aquele conceito do jovem brincar de pensar. As pessoas reconhecem que o Teatro Mágico não é só uma apresentação em determinado dia com pessoas coloridas e felizes. O Teatro Mágico é exatamente como aquele jovem vai se colocar, que personagem ele vai escolher para viver o dia-a-dia dele. Eu acho que o Teatro Mágico faz essa indagação a todas as pessoas que têm contato com ele. E eu fico feliz da vida. Cada vez mais essa responsabilidade pesa na gente, porque não cantamos para um ou dois. É um monte de gente que está ali e se interessando em fazer algo pelo próximo. Pensando assim a idéia é atingir cada vez mais e mais pessoas. Isso para nós é ótimo.
LA – O projeto do Teatro Mágico é uma trilogia. Vocês já lançaram o segundo álbum, e logo lançarão o terceiro. Como vai ser depois disso? O grupo vai acabar?
Anitelli - Na verdade não é que a gente vai parar. Eu quando pensei o Teatro Mágico pensei numa trilogia que pudesse traduzir algumas questões sociais, almáticas, em relação aos preconceitos de opção sexual, de cor, contra a mulher, a questão do meio em que vive o homem, do trabalho. Eu acho que tem tanta coisa importante para a gente falar. Eu não vou falar de coisa feia, que coisa feia o tempo todo já tem. Então vou falar de fantasia. Ao invés de falar das coisas que destroem, que machucam, vamos colocar a realidade de uma forma para o povo aprender, para ter informação. Para se mobilizar contra essas coisas. Senão a gente fica também vivendo num país de sorrisos e alegrias quando na verdade não é nada disso. Eu acredito que as nossas ações não podem ser impensadas. O artista tem uma responsabilidade social. Ele não pode fazer uma arte que entra no palco e blá blá blá, vai embora e está de bom tamanho. Não, não é isso. As pessoas têm que sair dali se perguntando “o que estou fazendo e o que não estou fazendo? Onde posso melhorar?”.
LA – E o terceiro e último álbum? O que o público pode esperar?
Anitelli - O primeiro foi um questionar do indivíduo no coletivo, onde o tudo é uma coisa só. Tinha a poesia, a brincadeira, o sarau. No segundo o personagem se identifica com as mazelas do dia-a-dia, as coisas mais urbanas, mais realistas, mais preto-e-branco, com tons pastéis. Acho que o Terceiro Ato vem com uma mescla disso tudo, mas também com propostas de como a gente pode melhorar esse mundo. Não somente narrando os fatos, mas também modificando o meio. Mas só fiz duas músicas, não tenho letra nenhuma ainda. Estamos nos preparando para gravar no segundo semestre desse ano e no começo do ano que vem fazer um lançamento com qualidade, com dignidade.
LA - Como foi estar no Fórum Social Mundial?
Anitelli - É uma experiência que eu acho que todo artista tem que passar. Se colocar na posição do cidadão que está ali disposto a aprender sobre as dificuldades do próximo, a pensar junto com o próximo. No Fórum Social Mundial eu pude me articular com outros músicos e a gente também se encontrou com o pessoal de software livre, da economia solidária, e pensamos o Fórum de MPB, o Fórum de Música para Baixar. Todo artista que tem essa dialética de liberar as músicas para download gratuito, para incentivar o acesso gratuito à cultura, é convidado a se unir a nós. Por isso tudo o FSM foi inspirador. Ele une pessoas de todas as idades, credos, cor, raça, cada um trazendo suas diferenças e dificuldades. É momento de não só a música, mas a cultura em geral aprimorar debates.
LA – Você trabalhava num banco, largou tudo e hoje se dedica do Teatro Mágico. Como foi isso? Foi um processo ou você simplesmente chutou o balde?
Anitelli - Trabalhei por sete anos na parte de produção visual de um banco. E foi ficando insustentável deixar a música apenas como um hobby. Quando a arte faz o chamado dela, ela fala: “De hobby, em segundo plano, eu não vou ficar. Ou me assu