domingo, 20 de abril de 2008

Síndrome de Tin Tin (ou não)




Houve um tempo em que eu queria ser atriz. Era como o patinho feio que as meninas não tão desengonçadas de 13 anos não aceitavam muito bem em seu meio. Ou talvez isso fosse apenas complexo ou imaginação. Mas ser atriz era uma fixação. Não me imaginava como as gostosas da Globo, e sim como aquelas que, no palco, podiam ser outras. O encantamento começou com uma frase de uma atriz que já não me lembro quem é. Ela disse: “O mágico de ser ator é poder viver várias vidas em uma”. Um belo clichê. Todo ator ama falar isso. E a menina decidiu viver várias vidas em uma só.
Pena que não deu certo. Quando a timidez começou a ser vencida, outros problemas apareceram. É, não era para ser atriz. Desencanei então de querer ser alguma coisa. Mas um dia, a paixão pelas letras falou mansinho no meu ouvido que queria ser o rumo principal da minha vida.
Descobri que queria ser jornalista. Pelo motivo que todo mundo (ou quase) decide ser jornalista: ler e escrever era a única coisa que eu sabia fazer bem na vida. E então, resolvi um problema. Quando perguntavam o que eu queria ser, respondia que seria jornalista. Além do mais, nos filmes o jornalista sempre era o herói. Sempre fazia justiça. Ídolo maior? O Tin Tin, que rodava o mundo desvendando mistérios.
Ninguém nunca brigou, ou usou um argumento forte o suficiente para que eu desistisse. Ouvir que eu seria pobre nem me assustava. Acho que ficava mais assustada com a possibilidade de ser a Fátima Bernardes que todo parente citava (nada contra a Fátima). E até hoje tenho esse pavor de televisão.
Mas quando me perguntavam por que eu quis ser jornalista, nem sabia dar uma resposta muito exata. Eu decidi e quis, ué. Foi isso. Fez plim na minha cabeça e ponto. E em um monte de lugares pediam: escreva porque você decidiu ser jornalista. Não dava certo escrever: fez plim e decidi. E eu enrolava e enrolava. Nunca fiz um texto decente com esse tema. Nunca.
Mas hoje me deu uma vontade tremenda de escrever sobre isso por um motivo bem simples. Percebi por que escolhi ser jornalista. Tenho uma missão: contar histórias. E por isso resolvi começar o blog com esse texto. Quem sou eu? Acima de tudo, jornalista.
O trabalho que tive mais prazer na minha vida foi o temido trabalho de conclusão de curso. Sofri, como todo mundo. Mas cada texto que ficava pronto era um orgasmo. Cada pessoa com quem conversava me deixava em êxtase com suas histórias. Mas nunca tinha parado para pensar sobre isso. Sobre meu prazer em ouvir e escrever.
Hoje assisti um trecho de um documentário sobre os indígenas no Xingu. Tinha algumas das imagens mais lindas que já vi na vida. Pessoas. Olhos que contavam tanto... É difícil encontrar palavras para descrever o olhar do último pajé de uma tribo. É único. Profundo. Traduzir em palavras as histórias antigas sobre o mundo e suas origens que eles lutam para que não deixem de existir. É de perder o fôlego.
Vendo o trabalho da equipe que realizou o vídeo, entendi a minha escolha. Pela primeira vez percebi porque escolhi ser jornalista: não posso viver várias vidas em uma só, mas posso escrever sobre todas as vidas que eu quiser.

3 comentários:

jadolfo disse...

"não posso viver várias vidas em uma só, mas posso escrever sobre todas as vidas que eu quiser."... isso é o mais fascinante da profissão. Pena q esse "que eu quiser" é tantas vezes podado, substuindo o fazer imprensa pelo fazer dinheiro.

Anônimo disse...

fazer imprensa, é importante, fazer dinheiro, tambem, o mais importante é ser feliz fazendo aquilo que gostamos e fazemos com prazer.

jadolfo disse...

Completando o pensamento do amigo Jair, com o qual eu concordo, vale dizer também q, além de, como ele disse, ser importante estar feliz com o q fazemos, é importante também pensarmos e pesarmos nossos atos para não fazer sofrer aqueles a quem amamos. Como pode ser feliz quem faz o outro infeliz? O mundo em que vivemos anda muito egoísta, muito triste e acinzentado justamente pelo espírito egoísta que paira sobre boa parte da humanidade. Para este ser um lugar melhor de se viver é preciso que comecemos a pensar no outro e deixar de olhar apenas para nosso umbigo. Certo?